O
impeachment geraria a reversão das expectativas e o otimismo mobilizaria a
vontade do empresariado para investir e produzir, afirmavam analistas,
políticos e o novo governo. O setor produtivo e o novo governo entrariam em
campo para “dar tudo de si” e “fazer o seu melhor”, como costumam afirmar
atletas antes e depois de qualquer prova ou partida esportiva.
Contudo,
os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), nessa semana, revelam que se alguém entrou em campo, não deu conta do
recado. O “seu melhor estava fora de si”. O Brasil consolidou, pelo segundo ano
consecutivo, um dos maiores tombos econômicos da sua história. Se em 2015 o
País regrediu economicamente -3,8%, em 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu
novos -3,6%. Nos dois tempos, uma queda de -7,2%.
As
variações trimestrais negativas começaram no governo Dilma Rousseff:
-1,2%
no 2º trimestre de 2014, e 0% e 0,2% no 3º e 4º trimestres daquele ano. Em
2015, as taxas foram de -1%, -2,2%, -1,5% e - 1,2% (do 1º ao 4º trimestre de
2015). No 1º e 2º trimestre de 2016, as quedas ficaram em -0,6% e -0,3%,
respectivamente. A cada trimestre a queda era menor, apesar da grave crise que
travava as iniciativas do governo.
A
certeza de que a superação da crise política geraria ambiente favorável era
animada ainda pela agenda de reformas do governo de Michel Temer. Esperava-se
que os indicadores apontassem a mudança do quadro recessivo.
Contudo,
os indicadores do 3º e 4º trimestrais de 2016 voltaram a piorar, e muito, mesmo
sendo o segundo semestre, sazonalmente, melhor do que o primeiro. O PIB do
terceiro trimestre caiu -0,7% e do quarto -0,9%.
Na
variação anual (2016/2015), a produção da agropecuária recuou -6,6%, a indústria,
-3,8%, os serviços, -2,7%, com queda de -3,1% no valor adicionado e de -6,4%
nos impostos sobre produto. A produção caiu porque a demanda despencou: -4,2%
no consumo das famílias, -0,6% no consumo do governo, -10,2% nos investimentos.
A exportação cresceu 1,9%, mas a importação diminuiu -10,3%.
Famílias
e empresas estão muito endividadas, sofrendo com os juros extorsivos e sem
capacidade de gerar renda para fazer frente aos compromissos. O desemprego está
muito elevado e deve continuar crescendo neste semestre. A massa salarial cai.
Há enorme capacidade ociosa nas empresas e a recomposição de estoques não
encontra demanda de consumo. A crise fiscal e a política econômica indicam
restrição no consumo do governo e a expectativa de que o investimento virá do
setor privado, claramente, não se confirmará no curto prazo.
O
setor exportador, com o dólar bem posicionado para as empresas competitivas,
obteve algum resultado em 2016. Mas a nova valorização cambial em curso deverá
apagar essa luz do túnel das exportações de manufaturados, contribuindo com
ampliação da importação, o que é péssimo sinal. Para dizer que existe alguma
boa notícia, houve redução da inflação, ótima safra de grãos e baixíssima
redução da taxa básica de juros, mas tudo muito pouco para tirar a economia da
recessão.
Na
cidade, aumenta o número de placas com os dizeres “passa-se o ponto”,
“vende-se”, “aluga-se” ou simplesmente “estamos fechando” ou encontram-se as
portas já fechadas; há vertiginoso aumento de moradores de rua e da pobreza; crescem
a desesperança e preocupação no rosto das pessoas. Na economia, muito indica
que 2017 tem alto risco de ser o terceiro ano de recessão ou, na melhor das
hipóteses, um ano de crescimento lento e muito baixo, menor que 0,5%.
Essa
tragédia precisa ser revertida com um protagonismo do Estado, em termos de
política econômica, o que não está indicado na agenda do governo. Não há
otimismo que resista aos gols tomados. Ao final, como dizem os jogadores
“perdemos porque tomamos os gols que não queríamos e não fizemos os que
devíamos”. No futebol, como na vida, tudo continua e a luta é a única
alternativa, mas são necessárias muita inteligência e mobilização.
Clemente Ganz Lúcio é sociólogo e diretor-técnico do Dieese.