No mês passado, segundo o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), a inflação oficial medida pelo Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em -0,23%, a chamada deflação. Esse
foi o primeiro resultado negativo em 11 anos.
A deflação significa que os preços dos produtos e
serviços caíram durante o mês de junho. De acordo com o IBGE, o que mais puxou
esse resultado foram as quedas nos preços da energia elétrica, dos transportes
e dos alimentos.
Com a deflação, o consumidor consegue comprar
produtos pagando menos, o que, em um primeiro momento, representa a recuperação
do poder de compra. A deflação, no entanto, pode indicar dificuldades
econômicas se persistir por vários meses.
Deflação é boa ou ruim?
Da mesma forma que a inflação alta representa um
problema para a economia, a queda de preços nem sempre representa um bom sinal.
De acordo com a teoria econômica, índices negativos
seguidos e generalizados indicam que os empresários estão baixando os preços
por não estarem conseguindo vender as mercadorias a consumidores sem dinheiro.
Esse comportamento normalmente está associado a países que enfrentam
estagnações econômicas prolongadas, como o Japão, ou recessões severas
acompanhadas de alto desemprego, como a Grécia.
Após a crise econômica global de 2008, o Japão
registrou inflação negativa de 2009 a 2012. Somente em 2013, o país asiático
voltou a registrar taxas positivas, mas os preços subiram por causa do aumento
de tributos anunciado pelo primeiro-ministro Shinzo Abe ao chegar ao poder. Em
2015 e 2016, o país continuou a registrar taxas positivas, mas próximas de
zero.
A situação é mais dramática na Grécia. No início da
crise da dívida grega, em 2012, o país ainda registrou inflação positiva, mas
após a recessão e as medidas de ajuste fiscal impostas como parte do plano de
resgate, a economia grega passou a registrar deflação crônica: -1,82% em 2013 e
-2,54% em 2014. Desde 2015, o país tem registrado índices próximos de zero.
Deflação no Brasil
Relativamente comum em períodos de recessão nos
países desenvolvidos, a deflação não é frequente no Brasil. De acordo o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que compila estatísticas
antigas do país, em poucos momentos da história, o Brasil registrou deflação
por vários meses seguidos. A primeira vez foi em 1930, quando os preços caíram
8,9% após a crise do ano anterior que fez o preço do café despencar.
Na história recente, a última vez em que a economia
brasileira tinha registrado deflação prolongada tinha sido em 1998, quando a
inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
ficou negativo por quatro meses: julho, agosto, setembro e novembro. O índice
fechou aquele ano em 1,66%. Na época, o Brasil tinha um câmbio supervalorizado
e cresceu apenas 0,34%.
Na década passada, o IPCA ficou negativo em apenas
três vezes: em junho de 2003 (-0,15%), em junho de 2005 (-0,02%) e em junho de
2006 (-0,21%). As deflações, no entanto, não indicaram tendência porque os
índices encerraram esses anos com resultados positivos: 9,3% em 2003, 5,69% em
2005 e 3,14% em 2006. Somente em junho deste ano, o IPCA voltou a registrar
valores negativos.
FONTE: Agência Brasil