A conjuntura econômica brasileira, que beira o pleno emprego, favorece a situação dos jovens, que inserem-se com mais facilidade ao mercado de trabalho. No entanto, apesar dos índices positivos, questões estruturais de qualificação da mão de obra não acompanham essa evolução.
Segundo a pesquisa mensal de emprego do IBGE,que considera população economicamente ativa das seis principais regiões metropolitanas do país ( Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre ), a taxa de desocupação entre os jovens entre 18 e 24 anos no mês de abril ficou em 13,9%, assim como ano passado, no mesmo período. O número é proporcional ao índice geral de desemprego, que está em 5,8%. O cálculo comum é que a estatística entre os jovens seja duas ou três vezes maior que o geral.
Enquanto a Europa enfrenta uma grave crise, o que afeta profundamente os níveis de emprego, o mercado de trabalho brasileiro, por outro lado, está aquecido. Apesar de ser economicamente vantajoso, esse aquecimento pode "contribuir" para a estagnação da qualificação da mão de obra. Isto porque, como a pesquisadora do IBGE, Adriana Beringuy, explica, há varias realidades no Brasil, incluindo jovens que precisam conseguir emprego para aumentar a renda familiar:
"Somando os problemas estruturais no ensino brasileiro, com as desigualdades sociais do país, onde muitos adolescentes são obrigados a assumir um emprego precocemente, muitos jovens ingressam cedo no mercado de trabalho. Essa "escolha" acaba prejudicando uma melhoria na qualificação técnica da pessoa", analisa a pesquisadora, que lembra o aumento da escolaridade no Brasil, o que não se repetiu quanto à qualificação técnica e de ensino superior.
Na mesma linha, a professora de economia da USP de Ribeirão Preto, Natalia Nunes, diz que o aquecimento do mercado é um atrativo a curto prazo para os jovens do país. Com o aumento da oferta e do salário médio, o trabalho é privilegiado em detrimento dos estudos. Utilizando as situações da Espanha e de Portugal, onde cerca de metade dos jovens estão desempregados, como parâmetros, ela explica que ao chegar um momento de crise, os trabalhadores menos experientes são os primeiros afetados:
"Diferentemente de quem vivenciou a década de 90, a juventude de hoje tem a oportunidade de aproveitar o aquecimento da economia para se inserir logo no mercado. Assim, a pessoa muitas vezes consegue seu primeiro emprego sem estar devidamente preparado. Enquanto a Espanha e Portugal viviam períodos estáveis, com bastante oferta de emprego, os jovens privilegiaram o trabalho aos estudos. No momento em que chegou a crise, os funcionários com menos experiência e qualificação foram os primeiros demitidos", alertou Natalia, lembrando que a legislação trabalhista também é punitiva com os jovens, já que, para dispensar um funcionário antigo, o empregador é obrigado a arcar com muitas indenizações.
Fonte: Jornal do Brasil, 18 de junho de 2013
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