terça-feira, 5 de julho de 2011

DOR E GRATIDÃO

Miraldo Vieira

Cheguei a Salvador na noite do dia 16/06/2011, no dia seguinte logo pela manhã fui para o hospital Roberto Santos, onde minha mãe já se encontrava internada e foi assim nos dias seguintes. Estava me preparando para passar uma noite no hospital com minha mãe, que seria o dia 20 de junho de 2011. Era uma segunda-feira estava saindo da FETRACOM para casa e recebi uma ligação para quê comparecêssemos ao hospital, pois minha mãe estava de alta médica.
Juntamente com minha irmã me dirigi ao hospital e lá vi que minha mãe não tinha nenhuma condição de ir para casa, principalmente as vésperas do São João (quando é reduzido o número de profissionais e aumenta o número de queimados), questionamos a médica que cuidava de minha mãe e ela então nos informou que o melhor para Dona Eulina era ir para casa, ficar em companhia da família porque o que tinha que ser feito, já tinha sido feito e não tinha como fazer mais nada, minha mãe estava acometida de um tumor maligno que tinha se alojado nos rins e não havia condições de fazer a cirurgia.
Neste momento meu mundo desabou quando a médica disse que não havia mais nada a ser feito. Foram longos quarenta minutos de desespero, dor e impotência, não consegui mais entrar no leito que minha mãe estava e nem consegui passar a noite no hospital, como estava planejado. Foi preciso que meus irmãos fossem ao hospital para ficar a noite e me levar para casa. Antes de ir embora, porque não tinha a mínima condição de dar forças para a minha mãe, (só conseguir passar a noite no hospital no dia 21/06), respirei fundo e fui questionar a alta medica, pois minha mãe só conseguia se alimentar através de sonda e ainda assim o alimento não ficava no estomago. Após usar todo argumento (eu e minha irmã) convencemos a médica a não dar alta a minha mãe naquele momento e negociamos para a segunda-feira (27/06), mas minha mãe lúcida e determinada disse que não queria mais ficar no hospital e que aceitaria ficar até o final das festas juninas e ficou certado que no sábado (25/07) minha mãe teria alta médica, o que ocorreu.
Minha Rainha não sentia dor, mas sofríamos muito por ela não conseguir se alimentar, apesar do esforço. O sofrimento era muito por ver minha mãe tentando se alimentar, mas o estomago rejeitava o tempo todo. Nem mesmo o alimento ingerido por sonda ficava no estomago. Diante de todo o sofrimento Dona Eulina Vieira olhava-nos e dizia “meu filho fique bem, vamos atravessar essa juntos, mas se for da vontade de Deus, estou preparada”. Só que muito debilitada, apesar de não sentir dor, tivemos que levá-la a emergência do hospital do Subúrbio na manhã de domingo (26/06), sendo transferida para o hospital Roberto Santos, ficando internada até o dia 29/06. No dia 28/06 à noite tive que voltar a Brasília para participar da reunião da direção da CONTRICOM, antes passei no hospital para dar um beijo em minha mãe e disse-lhe “mãe estou viajando com o coração partido por deixar a senhora no hospital” e minha mãe com sua voz doce e meiga disse-me: “vá e que Deus te acompanhe e guie teus caminhos e não fique com o coração partido, vá e volte com o coração inteiro” foram essas as últimas palavra que ouvir de minha mãe. É incrível, todas as vezes que iríamos ao hospital Dona Eulina sempre tinha uma palavra de auto-estima para nós, quando deveria ser o contrário.
No dia (30/06) novamente minha mãe teve que ir para a emergência do hospital do Subúrbio por dificuldades respiratórias e na noite daquele mesmo dia cheguei a Salvador (a serviço), para participar de um encontro no dia 01/06/2011 e estava fazendo planos para ir ao hospital na manhã de sábado (02/06), mas o destino não quis assim.
Ao acordar tive medo de levantar da cama, fiquei por alguns instantes torcendo para que aquele dia não chegasse, mas as 07hs da manhã meu irmão bate a porta e me chama para dizer que a assistente social ligou pedindo para alguém da família comparecer ao hospital, voltei ao quarto e mais uma vez fui aos prantos, mas respirei fundo e fui ao hospital juntamente com meu pai e mais dois irmãos e chegando lá se confirmava o sonho que tive e que eu nunca queria realizá-lo.

Gratidão

Diante da dor da família que se julgava impotente para solucionar o problema, tivemos apoios importantes que foram imprescindíveis.
Nossa família (Vieira da Silva) é grata aos diretores e funcionários da FETRACOM/BA, do SINTRACOM, do SINTRACOMSAJ, do Sindicato dos Marceneiros de São Paulo, da CONTRICOM e da CTB, pelos apoios e as palavras de carinho que em muito nos fortalecia.
Seria um erro nominar nomes, com certeza poderia esquecer alguém e cometeria uma injustiça.
Em vários momentos me fingir de forte para não deixar a peteca cair, mas quem não mim deixou cair mesmo, foram às mensagens de apoio e carinho que chegavam a todo instante de diversos lugares. Muito obrigado a todos e todas.
Foram mais de trinta dias de puro sofrimento, entre uma reunião e outra, uma viajem e outra a lembrança e a vontade de estar ao lado de minha Rainha 24hs por dia. Ficou a lembrança de uma mulher de fibra, corajosa e batalhadora, sempre orientando e dando direções a família. Dona Eulina Vieira da Silva deixou esposo, 07 filhos, 18 netos e 03 bisnetos.

“Mãe, somos eternamente gratos pela vida e pelos seus ensinamentos. Seguiremos firme nós espelhando nos seus atos.”

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