As denúncias envolvendo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, revelaram uma disputa entre as centrais sindicais. De um lado, a maior do país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT, e, do outro, as outras cinco entidades, galvanizadas pela Força Sindical, ligada ao PDT, do qual Lupi é o presidente de honra. A gestão de Lupi, iniciada em 2007, foi excelente para as centrais, que foram autorizadas a receber uma parcela do imposto sindical - R$ 351 milhões foram divididos pelas seis de abril de 2008 para cá. A utilização dos recursos não é fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), vitória que conseguiram também com apoio do governo.
A reportagem é de João Villaverde
Ainda que tenha sido a principal beneficiária do repasse (com pouco mais de R$ 100 milhões), a CUT tem se afastado, desde o início do ano, do grupo liderado pela Força, que liga a recente proeminência das centrais no debate público ao canal aberto a elas por Lupi. Além de defender o fim do imposto sindical, a CUT não subscreveu as notas de desagravo que as cinco centrais divulgaram nas últimas semanas, de apoio ao então ministro do Esporte, Orlando Silva, e a Lupi.
A cúpula da Força Sindical vê "má vontade" da CUT em defender Lupi um "claro interesse" em retomar o ministério - o antecessor de Lupi na Pasta, Luiz Marinho (PT), atual prefeito de São Bernardo do Campo (SP), fora presidente da CUT entre 2003 e 2005, quando assumiu a Pasta, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.
O entendimento da Força é compartilhado pelas outras centrais, segundo o testemunho colhido pelo Valor junto aos líderes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e Central Geral de Trabalhadores do Brasil (CGTB).
A avaliação que o presidente da Força, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, tem feito aos dirigentes da central em São Paulo é que o PDT pode perder o Ministério do Trabalho, e receber outro em troca. A substituição de ministérios seria uma forma de o governo Dilma Rousseff demonstrar que os partidos não são donos dos ministérios.
"Ficou a impressão de que o Ministério do Esporte é do PCdoB e do Trabalho é do PDT", afirmou um dirigente da Força, que não é filiado ao PDT e pediu para não ser identificado. Uma das principais fiadoras de Lupi no Trabalho, a Força avalia que não terá peso suficiente para indicar um substituto caso Lupi deixe o ministério - especialmente se o PDT deixar a Pasta.
O nome com maior ascendência junto ao PDT para a eventual substituição de Lupi, o deputado Brizola Neto (RJ), não é próximo da Força ou das centrais. Neto foi, por apenas 40 dias secretário de Trabalho do governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, em janeiro e fevereiro deste ano.
Segundo Wagner Gomes, presidente da Central Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras (CTB), braço sindical do PCdoB, a situação de Lupi está "superestimada". Segundo Gomes, Lupi conduz "um trabalho importante de organização do movimento sindical".
"Lupi sempre busca a opinião das centrais quando faz alguma articulação com os sindicatos. É um ministro importante para o governo, e tem sofrido a mesma pressão política que sofreu o Orlando [Silva, ex-ministro do Esporte]", afirmou ao Valor o presidente da CTB. Para Gomes, "essa acusação de que o ministro pegou carona em um teco-teco é muito pouco relevante para derrubá-lo".
Fonte: Valor, 17 de novembro de 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário