A OIT
– Organização Internacional do Trabalho divulgará hoje (31/07) um relatório inédito
no Brasil que aponta dados importantes nas relações de trabalho. Chamaram-me a
atenção os dados que transcrevo abaixo para o conhecimento das companheiras e
companheiros sobre o trabalho das mulheres. Esses dados são fruto da persistência
feminina na última década e merece destaque e reconhecimento do movimento
sindical e da sociedade como um todo. A divulgação destes indicadores é com a intenção
de auxiliar as companheiras do ramo da construção na elaboração de suas teses.
Boa
leitura a todas e todos
Miraldo
Vieira
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A
importância dos rendimentos oriundos do trabalho na renda familiar
No
Brasil, segundo os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009
do IBGE, cerca de 61,0% da renda familiar é proveniente do trabalho. Isso
significa que grande parte dos rendimentos familiares e, por conseguinte, das
condições de vida das pessoas, depende primordialmente dos rendimentos gerados
no mercado de trabalho.
Os
rendimentos do trabalho mantiveram a trajetória de crescimento e reduziram-se
as disparidades de gênero e raça
O
rendimento médio real dos trabalhadores cresceu continuamente, passando de R$
896 para R$ 1.071 entre 2004 e 2009, o que perfaz um aumento real de 19,5% em
apenas cinco anos, não obstante a forte desaceleração econômica ocorrida em
2009, fruto da crise internacional. O aumento da remuneração laboral foi decorrente,
sobretudo, dos seguintes fatores: a política de valorização do salário mínimo
(entre abril de 2003 e janeiro de 2010, o aumento real acumulado do salário
mínimo foi de 53,7%); a intensificação do processo de formalização das relações
de trabalho, abrindo a oportunidade para uma parcela dos trabalhadores
transitarem para uma inserção ocupacional protegida e de rendimentos mais
elevados; o expressivo crescimento do percentual de acordos e negociações
coletivas que estipulavam um reajuste real dos salários, no caso das categorias
mais organizadas dos trabalhadores.
Entre
2004 e 2009, o aumento do rendimento médio das mulheres (21,6%) foi superior ao
dos homens (19,4%). Em conseqüência, o percentual do rendimento recebido pelas
mulheres em relação ao auferido pelos homens aumentou de 69,4% para 70,7%.
Também diminuiu, e em forma mais expressiva, o diferencial de renda entre
trabalhadores brancos e negros: enquanto, em 2004, os negros recebiam cerca de
53,0% do rendimento dos brancos, em 2009 essa relação era de aproximadamente
58,0%. Isso se explica porque o rendimento médio real dos negros cresceu 29,8%
no período (de R$ 607 para R$ 788), enquanto o dos brancos aumentou 18,3% (de
R$ 1.143 para R$ 1.352). A redução dos diferenciais de rendimento, tanto em
termos de sexo quanto de cor ou raça, foi bastante condicionada pelo processo
de valorização real do salário mínimo, que aumenta mais expressivamente os
rendimentos na base da pirâmide, na qual estão sobrerrepresentados as mulheres
e os negros.
Diminui
o percentual de trabalhadores pobres no país
Entre
2004 e 2009, reduziu-se de 7,6% para 6,6% a proporção de trabalhadores pobres
no país, ou seja, pessoas ocupadas que viviam em domicílios com rendimento
domiciliar per capita mensal de até 1/4 do salário mínimo. A redução foi de 0,9
ponto percentual tanto entre os homens (de 7,9% para 7,0%) quanto entre as
mulheres (de 7,1% para 6,2%). Tratando-se do atributo cor ou raça, o declínio da
proporção de trabalhadores pobres foi maior entre a população ocupada negra
(2,0 pontos percentuais) do que entre a branca (0,4 ponto percentual).
Entretanto, em 2009, o percentual de trabalhadores pobres negros (9,8%) era
quase que três vezes superior em comparação aos brancos (3,4%).
A
redução da pobreza entre os trabalhadores e trabalhadoras esteve diretamente
associada ao aumento real dos rendimentos do trabalho, sobretudo do salário
mínimo, à ampliação da cobertura dos programas de transferência de renda e de
previdência e assistência social – que contribuíram para o aumento do
rendimento domiciliar – e ao pelo incremento da ocupação, principalmente do
emprego formal.
Aumenta
a média de anos de estudo dos trabalhadores e trabalhadoras
Entre
2004 e 2009, cresceu de 7,3 para 8,2 anos a média de anos de estudo da população
ocupada. Entretanto, apenas no Distrito Federal essa média (10,3 anos)
ultrapassava o patamar 10 anos. Em 15 das 27 unidades federativas, essa cifra
nem sequer alcançava os oito anos de estudo, que corresponde ao ensino
fundamental completo.
Os
estereótipos de gênero predominam nos cursos de qualificação profissional
A
análise da distribuição por sexo das pessoas que freqüentavam ou freqüentaram
curso de qualificação profissional, segundo a área profissional do curso, é
reveladora de estereótipos de gênero ainda vigentes na formação profissional e
no mercado de trabalho. Entre as pessoas que freqüentavam ou haviam freqüentado
curso na área da construção civil, 93,8% eram do sexo masculino e apenas 6,2%
do sexo feminino. Na área da indústria e manutenção também se observava uma
presença esmagadora dos homens (83,2%) em relação às mulheres (16,8%). Por
outro lado, as mulheres predominavam de maneira bastante expressiva nos cursos
considerados como “tipicamente femininos”: 91,0% em estética e imagem pessoal e
76,6% na área da saúde e bem estar social.
As
barreiras ainda vigentes na intermediação da mão de obra
Em
2010, 44,7% das vagas oferecidas pelo Sistema Nacional de Emprego (SINE) tinha
como requisito o sexo masculino e 11,1% o sexo feminino; para 44,3% das vagas
oferecidas não se fazia distinção de sexo, ou seja, elas poderiam ser
preenchidas indistintamente por homens ou mulheres. Considerando-se que os
trabalhadores de cada sexo podem concorrer aos postos de trabalho cujo
requisito é o seu próprio sexo ou àqueles nos quais esse requisito é
indiferente (ou seja, que não exigem requisitos relacionados a esse atributo),
constata-se que, enquanto os homens poderiam concorrer a 89,0% das vagas
ofertadas, as mulheres poderiam disputar apenas 55,4% delas.
O
conjunto dessas barreiras impostas pela exigência de requisito por sexo cria
inúmeros obstáculos para que as mulheres possam ser encaminhadas para
participar dos processos seletivos e, conseqüentemente, obter uma colocação no
mercado de trabalho por intermédio do SINE. As informações de intermediação de
mão de obra do SINE evidenciam o descompasso existente na participação
percentual das mulheres entre as pessoas inscritas e colocadas (que conseguiram
emprego). Nos anos de 2007 e 2010, as mulheres inscritas no SINE respondiam por
praticamente a metade do número total (cerca de 46,7%) de inscritos.
Entretanto, a participação percentual feminina entre o total de pessoas
colocadas era bastante inferior – 36,2% em 2007 e 39,6% em 2010.
A
dupla jornada feminina e as responsabilidades familiares
Ao
conjugarem-se as informações relativas às horas de trabalho dedicadas às
tarefas domésticas e de cuidado com aquelas referentes à jornada exercida no
mercado de trabalho, constata-se que, apesar da jornada semanal média das
mulheres no mercado de trabalho ser inferior a dos homens (36,0 contra 43,4
horas), ao computar-se o tempo de trabalho dedicado aos afazeres domésticos
(22,0 horas para elas e 9,5 para eles), a jornada média semanal total feminina
alcançava 58,0 horas e ultrapassava em 5,0 horas a masculina (52,9 horas).
Trabalhadoras
que tiveram filhos e licença-maternidade
No
levantamento domiciliar de 2008, a PNAD investigou a ocorrência de filho
nascido vivo durante o ano de referência da pesquisa. Com base nessa
informação, constatava-se que 2,7% das trabalhadoras ocupadas tiveram filho.
Entre as mães trabalhadoras que tiveram filhos, apenas a metade (50,5%)
contribuía para a Previdência Social. Isso significa que metade das mães
trabalhadoras não contribuía e, por conseguinte, não podia desfrutar da
licença-maternidade.
Associada
às desigualdades regionais e à precariedade dos mercados de trabalho locais, em
diversas UFs a proporção de mães trabalhadoras que tiveram filho e que não
contribuíam para a Previdência Social assumia proporções significativas: Piauí
(81,5%), Espírito Santo (76,9%), Acre (76,3%), Bahia (70,6%) e Alagoas (70,4%).
Os menores percentuais de mães trabalhadoras que não contribuíam eram
observados no Rio de Janeiro (25,9%) e Distrito Federal (28,3%) – e ainda assim
equivaliam a quase 1/3 do total das mães trabalhadoras.
Veja a versão completa do relatório