quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Construindo compromissos para mudar as condiçoes de trabalho

Transformar o Brasil em um país desenvolvido exigirá mudanças em muitas dimensões econômicas, sociais, políticas, entre outras, as quais exigirão um longo processo de recuperação e ampliação da infraestrutura social e produtiva
* por Clemente Ganz Lúcio e Clovis Scherer
A assinatura do Compromisso Nacional para o Aperfeiçoamento das Condições de Trabalho na Indústria da Construção, em março passado, é um acontecimento de grande importância para a história das relações de trabalho no Brasil. Isso porque, por um lado, é uma resposta ambiciosa a um sério desafio associado aos investimentos em infraestrutura, moradias e equipamentos esportivos: garantir aos trabalhadores condições de trabalho decentes, oportunidades de desenvolvimento pessoal e instrumentos de diálogo em torno de suas aspirações e necessidades. Por outro lado, como resposta aos conflitos iniciados nos canteiros das obras das Usinas de Jirau e Santo Antônio, desenvolveu-se a organização de um espaço nacional de negociação com impacto em todo o território brasileiro. Neste aspecto, foi inovador o espaço tripartite de negociação envolvendo trabalhadores, empresários e governo, que transformou o enfrentamento daqueles problemas no desenho de um acordo voluntário para mobilizar esses mesmos atores, em contexto concreto, para elevar o patamar das relações de trabalho no setor da construção.
Ao mesmo tempo, a maneira como o problema foi enfrentado permitiu ampliar o foco ao identificar um padrão de causas presentes em outros conflitos existentes no setor e, no debate próprio de negociações complexas, foram formulados instrumentos que favorecem a transformação geral dessa situação.
O processo
Como já foi afirmado, o Compromisso não foi apenas uma reação e, muito menos, uma resposta aos conflitos trabalhistas deflagrados nas usinas de Jirau e Santo Antônio. A busca por um acordo nacional que estabelecesse condições mínimas de trabalho, superando as tradicionais mazelas vivenciadas na indústria da construção, já tinha sido iniciada há alguns anos na relação entre empresários e trabalhadores. No entanto, aqueles conflitos, entre outros que a mídia torna visível em várias obras e que se repetem em todo o território em inúmeros outros canteiros, é o fato motivador que provocou a articulação da Mesa Nacional Tripartite, chamada pelo governo federal. A mesa conseguiu reunir vários ministérios (em especial, a Secretaria Geral da Presidência e o Ministério do Trabalho e Emprego), organizações empresariais da construção, civil e pesada ou industrial, as centrais sindicais e confederações nacionais de trabalhadores do setor. A liderança do governo, através do ministro da Secretaria Geral, foi eficaz na coordenação das negociações, mantendo a mesa operante e perseguindo os objetivos inicialmente estabelecidos para ela. Este foi um fator decisivo para o sucesso das negociações.
Já os empresários estiveram representados pelas organizações pelos segmentos da indústria da construção civil e da construção pesada. Tal composição permitiu incluir no Compromisso diretrizes voltadas para cada um destes dois segmentos, permitindo a aplicação tanto nas obras de grande porte do PAC e de estádios da Copa e das Olimpíadas quanto no Programa Minha Casa Minha Vida ou em outros empreendimentos imobiliários ou obras urbanas. Não menos importante foi o apoio e a adesão das grandes empresas do setor ao Compromisso.
Da parte dos trabalhadores, seis centrais sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, NCST, CTB e CGTB) se engajaram nas negociações, acompanhadas por cinco confederações nacionais de trabalhadores da construção. Com isso, fez-se representar no processo o conjunto dos sindicatos de trabalhadores, que contribuiu com propostas para a mesa e acompanhou cada passo das negociações.
A Mesa Nacional se organizou em reuniões com a presença dos ministros e dirigentes das entidades dos empresários e dos trabalhadores. A partir de uma agenda de questões a serem tratadas, acordada no início pela Mesa Nacional, os trabalhos foram realizados em grupos formados por representantes das partes, que tinham como tarefa elaborar as propostas a serem posteriormente levadas para a Mesa Nacional. Os grupos de trabalho que se sucederam tiveram sempre a participação tripartite de membros da Mesa Nacional, agregando, conforme o tema, especialistas das partes para a contribuição específica. O método de trabalho foi orientado pela análise do problema segundo o olhar de cada segmento, o estado da arte da legislação ou das boas ou más práticas, que subsidiavam o esforço coletivo para indicar os obstáculos, os impedimentos, os posicionamentos, identificar e negociar qual o avanço poderia ocorrer no aspecto específico. Cada parte realizou inúmeras reuniões com seus pares para debater as propostas e construir o posicionamento. Idas e vindas, tensão e vazio, desânimo e motivação estiveram presentes nesse processo de interação no qual os entendimentos foram se acumulando para gerar, ao final, os termos que passaram a compor o Compromisso Nacional.
O objeto negociado
As negociações trataram dos temas centrais em matéria de condições e relações de trabalho na indústria da construção, iniciadas por um problema que é crítico e urgente: acabar com a intermediação espúria da mão de obra, representada pelos chamados “gatos”, que transformam o direito à informação e ao serviço de acesso a um posto de trabalho em meio de ganho privado, com a exploração dos trabalhadores, realizada com a negação a eles de uma enorme lista de direitos humanos e trabalhistas. O Compromisso optou pela implementação de um sistema de intermediação público – em especial, por meio do fortalecimento do Sine (Sistema Nacional de Emprego, vinculado ao MTE) como meio de superação da presença do “gato” neste processo. O trabalhador terá uma série de proteções ao longo do recrutamento, da seleção e movimentação até o canteiro de obras e a efetiva contratação. Cabe destacar, neste aspecto, a urgência do investimento no fortalecimento do serviço público de intermediação operacionalidade do Sine-MTE, parte do Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda.
O segundo desafio do setor é o de qualificar a mão de obra, o que se fará com planos específicos de qualificação, executados também pelos vários atores, e garantindo como conteúdo dos cursos, informações sobre direitos trabalhistas e procedimentos relacionados à saúde e segurança no trabalho.
Os impactos das condições de trabalho e do ambiente onde se executa a atividade laboral trazem graves consequências para as pessoas que atuam nos canteiros de obra. Por isso, o terceiro tema negociado foi o da saúde e segurança no trabalho. Destaca-se no Compromisso o reforço do papel das Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (Cipas) e, sobretudo, o trabalho articulado entre várias delas. O avanço neste aspecto constituiu-se na formação de um Comitê de Saúde por Obra, em especial nas grandes obras, onde várias empresas atuam. Assim, além das Cipas, que cada empresa é obrigada a constituir e manter, o que se busca é elaborar, no Comitê, Planos e Programas da Saúde e Segurança que integrem as ações em todo o canteiro da obra e em todas as fases da construção. Dessa maneira, busca-se também fazer com que os trabalhadores terceirizados ou empregados de subempreiteiras tenham as mesmas proteções que os operários das empresas contratantes.
Vencidos estes primeiros três temas, partiu-se para aquele que representou, talvez, o maior avanço: o da representação dos trabalhadores nos locais de trabalho. Há uma limitação da legislação brasileira que não prevê o direito de organização no local de trabalho, bem como pouco se avançou nesse sentido na prática nas relações de trabalho. Por isso, neste aspecto, o Compromisso deu um grande passo, pois estabeleceu uma forma básica de representação que valoriza o papel do Sindicato de base, viabilizou a existência de comissões de representação dos operários de cada obra e de um mecanismo de diálogo entre estes e os responsáveis pelas obras em cada local. Os representantes dos trabalhadores também terão o emprego protegido para que possam, com tranquilidade, exercer o papel de representação.
Resolvida esta questão chave, o acordo também tratou das condições de trabalho nas obras, mas resguardando amplamente a prerrogativa das negociações diretas entre as partes para tratar dos salários, da duração dos contratos, das jornadas, de transporte e benefícios. Valorizou-se o respeito às convenções e acordos como um princípio básico a ser seguido por toda a cadeia de contratação no setor da construção.
O Compromisso não poderia deixar de tratar das relações entre os empreendimentos e as comunidades onde eles se inserem, já que os temas trabalhistas encontram-se extremamente imbricados nas condições de vida das populações locais. Em relação a essa questão, o ponto central é o estabelecimento e o fortalecimento do diálogo entre os atores sociais locais, em torno dos impactos das obras e das medidas para enfrentá-los. Nesse aspecto, foi destacado o protagonismo que deve ter o poder público ao induzir ou implantar uma grande obra. O projeto de investimento deve ser construído com a participação da comunidade envolvida, de maneira a incluir o desenvolvimento local no entorno da obra, como componente do projeto. Também devem ser previstos investimentos de infraestrutura social, antes, durante e depois da obra. Esta diretriz esta em consonância com a perspectiva do investimento no desenvolvimento local, de tal modo que a moradia, o transporte, a saúde, o lazer, a educação e a cultura, entre outros serviços e bens públicos, constituam-se em instrumentos de promoção do bem-estar e da qualidade de vida naquela comunidade. O país é repleto de experiências que demonstram justamente o contrário, nas quais o entorno das obras, as vilas ou cidades que daí se constituem são ou se tornam bolsões de pobreza, desigualdades e péssimas condições de vida.
A implementação
O Compromisso é de livre adesão e várias empresas imediatamente aderiram a ele. O governo deverá adotar as medidas para que os termos do Acordo sejam observados nas obras públicas que envolvam recursos da União. Isso garante condições mais favoráveis à efetiva implementação do acordo. A Mesa Tripartite foi instituída oficialmente e deverá animar e acompanhar a implementação do Compromisso por meio de indicadores e avaliações periódicas. Além de atuar na divulgação, adesão e negociação da incorporação desse novo parâmetro às relações de trabalho no setor, a Mesa trabalha atualmente no detalhamento de algumas regras ali definidas, com destaque para o Regimento Interno das Comissões por Obra e nos mecanismos de gestão nacional do Compromisso.
O acompanhamento e o monitoramento da aplicação prática do compromisso irão enriquecê-lo, bem como as dificuldades encontradas serão objeto de novas negociações. O importante neste sentido é a boa vontade dos atores em recolher dessa experiência as lições que podem melhorar o próprio acordo, ou seja, é preciso investir na continuidade do processo iniciado.
A difusão do Compromisso pode também trazer benefícios mais amplos, se servir como oportunidade de aprendizagem para que outros setores decidam construir termos nacionais como este. O Compromisso Nacional é algo histórico, especialmente porque foi construído em um segmento identificado com péssimas condições de trabalho e baixa proteção social, além de refratário às boas práticas de se avançar nas relações de trabalho. Pelo que se conseguiu, há um exemplo a iluminar e animar outras iniciativas em setores semelhantes em termos de condições e relações de trabalho, promovendo a produção econômica com trabalho decente.
Agenda de futuro no setor da construção
Transformar o Brasil em um país desenvolvido exigirá mudanças em muitas dimensões econômicas, sociais, políticas, entre outras, as quais exigirão um longo processo de recuperação e ampliação da infraestrutura social e produtiva. Portanto, muitas obras serão necessárias e há o desafio e a oportunidade de realizá-las em condições adequadas em termos de relações de trabalho. Novos temas deverão surgir ao longo do tempo.
Uma das questões que em breve deverá entrar na agenda das negociações é aquela relacionada à inovação tecnológica no setor da construção. A análise comparada internacional indica que o nosso setor caminha aceleradamente para ampliar a tecnologia dos processos produtivos. Partimos do pressuposto de que o investimento em tecnologia, que vem acompanhando a expansão do setor, é uma oportunidade para dar mais qualidade aos postos de trabalho, eliminar o trabalho penoso, fazer a máquina e a tecnologia atuarem no sentido de melhorar as condições de trabalho no processo produtivo. Como isso se materializará? Ao mesmo tempo, as empresas terão ganhos de produtividade e qualidade, cujo impactos serão a queda na demanda por força de trabalho. Como tratar dessa questão? O aumento da produtividade poderá ampliar o retorno econômico: como será a partilha dos ganhos de produtividade em termos de salários e condições de trabalho? Essas são algumas das questões que se colocarão em breve nas agendas de negociação.
Considera-se que o processo desenvolvido pela Mesa Nacional da Construção constitui-se em uma experiência em que, simultaneamente, construíram-se:
- o objeto – conteúdos a serem seguidos nas relações de trabalho;
- os instrumentos que favorecem e viabilizam essa construção – comissões e comitês, entre outros;
- a experiência em si, que se constitui em um capital político para referenciar outras iniciativas semelhantes em outros setores, transformando-se ao final;
- a própria Mesa, em um instrumento permanente para coordenar os rumos do Compromisso e investir no seu aperfeiçoamento.
Trata-se, portanto, de mais um caso exemplar em que o investimento político dos atores envolvidos desenvolve processos inovadores que podem suscitar novas e outras transformações. Um caso, portanto, que ajuda a resgatar dimensões do sentido mais profundo da política na medida em que, diante da contradição dos fatos e dos argumentos das partes envolvidas, as pessoas optam, diante do que representam, pela construção do diálogo de outros e novos caminhos e objetivos. A qualidade de um acordo não está somente no consenso ou convergência dos termos, mas, também, ao explicitar o dissenso e aquilo que não se admite negociar, no esforço por encontrar outros parâmetros e perspectivas que possibilitem convergência, o que implica a mudança de posicionamento de todos ou de alguma parte. A negociação pode ser – se assim for concebida – um campo no qual o pensamento interage na luta entre o que é e o que pode ser e, a política, a arte de fazer as escolhas nesse campo de interação. O futuro é, também neste caso, um campo aberto para a construção de novas relações sociais, espera-se, assentada nos fundamentos e princípios de trabalho decente.
* Clemente Ganz Lúcio e Clovis Scherer
Respectivamente, sociólogo, diretor técnico do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e membro do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) e Economista e supervisor do Escritório Regional do DIEESE no Distrito Federal.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Taxar as grandes fortunas para financiar a saúde

10/08/2012 Wagner Gomes

É reconhecidamente lastimável o estado da saúde pública no Brasil, carente de recursos e investimentos. Mas a situação pode melhorar se o Congresso Nacional aprovar o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 48/2011, que cria a Contribuição Social sobre Grandes Fortunas (CSGF) com a promessa de um aporte adicional estimado em R$ 14 bilhões para o setor.
A proposta, em tramitação na Câmara Federal, é do deputado Dr. Aluízio (PV-RJ) e tem por relatora a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que vinculou a destinação dos recursos à saúde. O objetivo é estabelecer uma contribuição compulsória dos ricaços “que será integralmente repassada ao Fundo Nacional da Saúde”, conforme determina o artigo 9º do PLP.
A taxação das grandes fortunas é uma demanda histórica dos movimentos sociais e desfruta de amplo apoio das forças democráticas e progressistas do país. A ideia foi contemplada pela Constituição Federal promulgada em 1988, mas depende de lei complementar para se transformar em realidade. Como contraria interesses dos mais ricos e poderosos, em geral grandes financiadores de campanhas políticas, os projetos neste sentido permanecem parados no Parlamento e provavelmente não sairão do lugar sem mobilização e pressão popular.
O sistema tributário brasileiro, com predominância do imposto indireto incidente sobre o consumo, é perversamente regressivo. Os mais pobres, as famílias com renda até dois salários mínimos, comprometem 49% do que ganham com o pagamento de tributos, de acordo com informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Já aqueles que embolsam mais de 30 salários mínimos por mês contribuem bem menos relativamente: 26%.
A CSGF é, portanto, uma medida de justiça tributária. Embora não substitua ou exclua a necessidade de uma reforma tributária mais ampla, trata-se de uma iniciativa relevante para reduzir as odiosas e arcaicas desigualdades sociais que caracterizam a sociedade brasileira e despertam vergonha nas mentes mais lúcidas e conscientes.
Países como França, Áustria, Suécia, Luxemburgo, Noruega, Suíça, Argentina, Colômbia, Uruguai, Espanha e Islândia já tributam as grandes fortunas. No Brasil será preciso superar a resistência das elites econômicas para implantar algo do gênero.
A tributação proposta é progressiva e modesta, devendo atingir apenas cerca de 56 mil contribuintes, segundo Jandira Feghali, sendo que 70% dos recursos devem provir dos 900 mais ricos, com patrimônio superior a R$ 115 milhões. Serão nove alíquotas, pagas anualmente, variando de 0,4% (para quem tem entre R$ 4 milhões a R$ 7 milhões) a 2,1% (patrimônio superior a R$ 120 milhões). Quem está na faixa inferior dará uma contribuição modesta, em torno de R$ 2 mil por ano.
O impacto para o milionário muquirana tende a ser desprezível quando se considera sua evolução patrimonial. Informações da Receita Federal, citadas pela deputada comunista, indicam que ao longo de 2009, ano de crise em que o PIB brasileiro recuou 0,6%, “o patrimônio das pessoas que superava a casa dos R$ 100 milhões elevou-se de R$ 418 bilhões para R$ 542 bilhões – 30% de crescimento em um único [e crítico] ano. Uma tributação adicional de 2% representa muito pouco para esse diminuto segmento social, mas representará um significativo aporte de recursos para a saúde pública, que atende 190 milhões de brasileiros.”
Não restam dúvidas de que o PLP nº 48/2011 merece e terá total apoio da CTB, das outras centrais sindicais, dos movimentos sociais e dos parlamentares progressistas. Muito embora a tributação das grandes fortunas esteja prevista na Constituição Cidadã (há 24 anos), não será concretizada sem luta. Sua aprovação requer ampla mobilização social. E é este o nosso desafio.

o wagner gomes ctb
Wagner Gomes é presidente nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Lei Maria da Penha é instrumento para diminuir diferenças entre homens e mulheres, diz presidenta

A presidenta Dilma Rousseff disse hoje (7) que a Lei Maria da Penha, que está completando seis anos, é um marco na luta das mulheres brasileiras e um passo importante para reduzir as diferenças entre homens e mulheres.
“Hoje a Lei Maria da Penha completa seis anos. É uma data para se reafirmar o compromisso do Brasil com o combate a todas as formas de violência contra a mulher e com o fortalecimento dos instrumentos e ações que visam ao fim da impunidade dos agressores”, disse a presidenta, em mensagem divulgada por ocasião do aniversário da lei.
Segundo Dilma, é preciso aperfeiçoar os mecanismos de responsabilização dos agressores. Para mobilizar a sociedade e os agentes responsáveis pela aplicação da lei, o governo lançou hoje a campanha Compromisso e Atitude pela Lei da Maria da Penha – A Lei é Mais Forte.
“A Lei Maria da Penha, ao tipificar criminalmente a violência doméstica, tornou-se um marco legal em uma luta histórica das mulheres e consolidou um caminho que precisa ser aprofundado, especialmente na responsabilização dos agressores”, diz o texto assinado pela presidenta.
De acordo com balanço apresentado hoje pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, em seis anos, o Disque Mulher registrou 329 mil denúncias de violência.
Fonte: Agência Brasil, 08 de agosto de 2012

Forçar saída de empregado é assédio moral, diz tribunal

ATAQUE À DIGNIDADEPor Ricardo Zeef Berezin

Por tentar “asfixiar profissional, financeira e psicologicamente a reclamante, visando à sua saída”, o Tribunal Regional do Trabalho de 7ª Região negou recurso da TIM Celular contra ex-funcionária demitida enquanto era gestante. A corte manteve a condenação por dano moral decidida em primeiro grau.


“Os danos morais decorrentes da conduta patronal são inegáveis, pois a ninguém é dado refutar que a imposição de metas inatingíveis, redução da média remuneratória e consequente ataque à dignidade do trabalhador levam, inexoravelmente, a um estado de sofrimento íntimo extremo (...) caracterizando nítido assédio moral”, afirmou o relator da decisão, juiz convocado Paulo Régis Machado Botelho.


Segundo a autora, o rumor de que seria dispensada começou a se espalhar 45 dias antes de ser, de fato, demitida. Disse ainda que, no período, o tratamento dos chefes mudou radicalmente e que, embora a companhia soubesse das tarefas irreais que lhe eram passadas — vender celular pós-pago a um a rede que só aceitava comprar no modo pré, por exemplo — reduzia suas comissões se não as cumprisse. Por fim, reclamou que a empregadora a obrigava a arcar com despesas de viagens, só reembolsando o valor muito tempo depois.


A alegação da funcionária foi aceita pela 14ª Vara do Trabalho de Fortaleza, que estabeleceu multa de R$ 20 mil a título de indenização. Insatisfeitas, tanto a autora quanto a ré recorreram: a primeira pedindo a anulação da sentença e a segunda solicitando a majoração da multa.


Preliminarmente, a empresa alegou ocorrência de julgamento extra petita e cerceamento de defesa, pois a oitiva de sua testemunha teria sido indevidamente negada. Ambos os argumento foram negados, já que, de acordo com Botelho, a aplicação do artigo 475-J do Código de Processo Civil — que prevê multa de 10% do valor da condenação em caso de descumprimento de decisão judicial — pode ser imposta independentemente de requerimento, e a ré apenas requereu a notificação de sua testemunha na própria audiência, quando deveria tê-lo feito 15 dias antes.


“O processo do Trabalho não deve se manter menos efetivo do que o processo comum, pois tal desigualdade seria injustificável, caracterizada pela teratologia de, por exemplo, um banco poder executar um trabalhador por regras céleres e inovadoras do Processo Civil, ao passo que o empregado bancário o executaria seguindo o sistema arcaico da CLT”, disse o juiz.


Quanto ao mérito, a TIM sustentou que não praticou qualquer ato que configurasse assédio moral, tanto é que a trabalhadora apenas ingressou com a ação dois anos após a ruptura do contrato. Disse ainda que não há prova da alegada perseguição — “todos os empregados eram reembolsados das despesas de viagens no final” — e nem da estipulação de metas inatingíveis — “a autora é que se encontrava desmotivada”.


Para o juiz, no entanto, a ré não atacou os fundamentos da sentença, nem indicou quais as provas existentes nos autos subverteriam a conclusão adotada. “O depoimento da preposta da empresa seguiu a mesma linha, ou seja, foi marcado pela vagueza e desconhecimento dos fatos alegados, podendo ser tomado como verdadeira confissão ficta”, afirmou.


Já a demanda da funcionária foi parcialmente atendida. Embora o TRT-7 tenha rejeitado a majoração da indenização — “sua fixação revela-se suficiente tanto para desestimular a repetição do ato ilícito por parte da reclamada, quanto para conferir reparação justa à autora” — aceitou a reclamação relativa aos honorários, já que “a presença do advogado nas lides trabalhistas deve ser incentivada”.


“Por esta razão, e a despeito do disposto na Lei 5.584/1970, interpretada pelas Súmulas 219 e 329 do Tribunal Superior do Trabalho, devem ser concedidos os honorários advocatícios, no percentual de 15% sobre o valor da condenação”, concluiu Botelho. Seu voto foi seguido por unanimidade.


Recurso Ordinário 0203700-26.2009.5.07.0014

Ricardo Zeef Berezin
é repórter da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 8 de agosto de 2012

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

SEMANA DE LUTA EM DEFESA DA SEGURANÇA NO TRABALHO / CARTA ABERTA DOS TRABALHADORES (AS) DA CONSTRUÇÃO

Em memória dos 19 operários mortos vítimas de acidentes do trabalho em 2011. Pelo Direito de Trabalhar sem Riscos. Pelo reconhecimento de 9 de agosto como o
"Dia Estadual de Luta Contra os Acidentes do Trabalho na Bahia".
O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira (SINTRACOM - BA) e entidades representativas da categoria, juntamente com os trabalhadores (as) da construção, se dirigem às autoridades e a toda sociedade, para lembrar que graves acidentes do trabalho continuam acontecendo nos canteiros de obras da Bahia.
Em 2011 foram 99 vítimas, com 19 mortos, em diversos canteiros, entre os quais nove operários, nossos colegas, foram vítimas fatais em um único acidente do trabalho, que aconteceu no dia 09/08/2011, por volta das 07:20h, quando um elevador despencou de uma altura de cerca de 100 metros, no prédio Comercial II, da Construtora Segura.
Neste acidente, as perícias feitas pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) e pela Polícia Civil Técnica apontaram falhas na manutenção do equipamento e por irregularidades por não obedecer às normas de segurança do trabalho NR18. Em ação civil pública, o Ministério Público do Trabalho (MPT), pede que a empresa seja responsabilizada por danos coletivos e pague a indenização de R$ 10 milhões, que nós defendemos sejam pagos às famílias das vítimas. Até agora, ao completar um ano dessa tragédia, nada foi resolvido.       .
Só no primeiro semestre de 2012,já registramos 50 acidentes, com duas vítimas fatais. Por isso, viemos a público pedir socorro! É preciso que o poder público aja para reduzir e acabar de uma vez por todas com essa crueldade. As empresas construtoras devem ser obrigadas a adotar medidas efetivas e obedecer às normas de segurança, para por fim nessas tragédias, que vêm se abatendo em nossas famílias: filhos que perdem seus pais, familiares que perdem seus entes queridos. Defendemos que aquelas que não se enquadrarem, também não recebam incentivos e financiamentos públicos, nem possam participar de concorrências públicas.
É preciso acabar com a ganância dos maus empresários, que exploram a mão de obra, muitas vezes de forma truculenta, sem se preocupar com o meio ambiente do trabalho, colocando em risco a segurança, a saúde e a vida do (a) trabalhador (a).
Nós queremos trabalhar para viver, não com perigo de morte e risco de sair de casa para não mais voltar.
O SINTRACOM-BA e os trabalhadores e trabalhadoras da construção conclamam toda a população para nos apoiar nesta Semana de Luta em Defesa da Segurança no Trabalho. Nos dias 6, 7 e 8 estaremos realizando mobilizações em diversos canteiros, onde ocorreram acidentes do trabalho em 2011. No dia 09/08, quando completa um ano da morte dos nove operários, Antônio Elias da Silva, Antônio Reis do Carmo, Antônio Luiz Alves dos Reis, Hélio Sampaio, Jairo de Almeida Correia, José Roque dos Santos, Lourival Ferreira, Manoel Bispo Pereira e Martinho Fernandes dos Santos, vamos nos reunir num Ato Público e Missa, a partir das 6 horas, no local onde ocorreu o acidente do trabalho, Avenida ACM, atrás do Hiper Posto, Salvador/BA.
Defendemos medidas concretas para acabar com os acidentes nos canteiros de obras na Bahia. E que o dia 9 de agosto, seja reconhecido como Dia Estadual de Luta Contra os Acidentes do Trabalho.
A luta por saúde e segurança na construção não para!
Acidentes nunca mais! Chega de acidentes e mortes na construção!

Mery Bahia
ASSESSORIA DE IMPRENSA – SINTRACOM-BA


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Confederações reúnem-se com Brizola Neto e cobram maior participação na elaboração de projetos

As confederações de trabalhadores reuniram-se, nesta quarta-feira (01), em Brasília, na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), com o ministro do Trabalho e Emprego, Brizola Neto e com o secretário de Relações do Trabalho, Manoel Messias, para tratar do conjunto de reivindicações das entidades, entre elas a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário (CONTRICOM) que foi representada por seu secretário geral, Miraldo Vieira.
Entre as reivindicações estavam a manutenção da unicidade sindical, a defesa da contribuição sindical e a reivindicação das confederações de serem ouvidas nas discussões que envolvem os trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo na nova redação da Portaria que substituirá a 186.
Representando as confederações, José Calixto Ramos, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), expôs as preocupações das entidades em relação a pouca atenção que os governos, ao longo desses anos, vêm dando as mesmas. Calixto reclamou, ainda, do sucateamento em que se encontra o Ministério do Trabalho.
O ministro Brizola Neto discorreu sobre a minuta que possibilita a alteração da Portaria 186 e se comprometeu a lutar pela revitalização do ministério, que segundo ele, tem tarefa muito importante, e que vai além de registro sindical. Além disso, o Brizola ressaltou que o Ministério irá respeitar a legislação vigente.
“Se a legislação diz que é unicidade sindical iremos respeitar isso, mas também a legislação fala em liberdade e autonomia sindical e o melhor caminho é sentar, conversar e nos entendermos, sem abrir mão de princípios, o que é mais importante”, ressaltou o ministro. Brizola ainda agradeceu as confederações de trabalhadores pela reunião, e reforçou a importância do diálogo social e dos encontros que vem tendo com a sociedade civil. O ministro se comprometeu a realizar reuniões mensais com as confederações.

Projeto permite mais um ano de mandato para sindicalistas e barra parentes na sucessão

"Chamo a atenção dos sindicalistas para mais um atentado contra a organização sindical, implementada pelo PSDB, desta vez os tucanos querem banir a cada 8 anos os sindicalistas já consagrados em suas categorias. Muito embora alguns sindicatos já estabeleçam em seus estatutos a permissão de apenas uma reeleição (como é o caso da FETRACOM/BA), não obsta a possibilidade do dirigente da executiva concorrer a outro cargo na direção, isso deve ficar a cargo dos eleitores e não do estado brasileiro. A proposta não apresenta nenhuma novidade no tempo de mandato, que também não deve ser uma prerrogativa do Legislativo. Cabe a categoria e somente a ela definir o tempo de mandato de seus dirigentes. Portanto, acho uma interferência do Legislativo na organização Sindical Brasileira, na minha modéstia visão a proposta é inconstitucional" 

Miraldo Vieira

 
Leiam mais na matéria baiaxo:


Projeto que começa a tramitar na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) amplia a duração dos mandatos sindicais, atualmente de três anos, para quatro anos, com possibilidade de reeleição por um período subsequente. Outro objetivo da proposta (PLS 252/2012) do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) é barrar a participação de parentes dos titulares de cargos sindicais na eleição seguinte.
O autor defende uma simetria com os critérios das eleições para cargos públicos executivos e propõe que fiquem inelegíveis o cônjuge e parentes consanguineos e afins, até o segundo grau ou por adoção. A regra leva em conta pessoas que ocupem cargos administrativos ou de representação econômica ou profissional, valendo inclusive para associações e conselhos de classe profissional e patronal.
Para Cássio, a participação de parentes nas eleições sindicais “favorece o continuísmo disfarçado”, a seu ver “sempre indesejado”. Além disso, ele entende que a entrada de parentes acaba gerando o uso da máquina sindical e do prestígio pessoal para favorecer um candidato, “em prejuízo da transparência e da alternância no poder”.
Custos eleitorais
Quanto à duração do mandato, o senador argumenta que as eleições devem ser periódicas, mas não podem ocorrer com frequência excessiva. Um dos motivos seriam os custos envolvidos, que a seu ver acabam impactando os orçamentos sindicais.
Outro fator indesejável seria o período de tempo dedicado às campanhas e divulgação dos programas. Como afirma na justificação do projeto, nesses momentos a defesa dos interesses da categoria pode “sofrer atrasos e perda de qualidade”.
Cássio Cunha Lima ainda argumenta que o mandato de quatro anos é mais indicado devido à necessidade de tempo para que os conflitos decorrentes das disputas eletivas sejam amenizados. Assim, acredita, será possível uma “continuidade administrativa harmônica”.
As alterações pretendidas pelo senador recaem sobre o texto da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), o Decreto-Lei 5.452, de 1943. Ainda sem relator designado, o projeto recebeu indicação para exame terminativo na CAS. Assim, se for aprovado nessa comissão e não havendo requerimento para que passem em outra comissão ou Plenário, seguirá diretamente para a Câmara dos Deputados.
Os senadores podem apresentar emendas ao projeto até esta quinta-feira (2).
Agência Senado, 2 de agosto de 2012