Miraldo Vieira
Brasília, 29/04/2011
Pesquisa divulgada ontem (28/04) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que falta mão de obra qualificada nas empresas de construção civil, segundo sondagem especial, 89% das empresas pesquisadas revelaram que necessitam de mão de obra qualificada.
Ainda segundo a pesquisa, o problema é causado pelo forte crescimento do setor nos últimos anos, na avaliação de 61% dos empresários entrevistados, a baixa oferta de mão de obra qualificada reduz a produtividade do setor.
Discordamos desta posição patronal. Na nossa modéstia avaliação, o jovem que está ingressando no mercado de trabalho não se estimula a se qualificar para trabalhar na construção civil, fase a ganância patronal deste setor.
Muito embora estejamos vivendo quase o pleno emprego no setor da construção, possibilitando lucros aviltantes para os empresários, os salários ainda são muito baixos. No que pese ter uma Norma Regulamentadora (NR-18) específica, as condições de saúde e segurança ainda deixam muito a desejar, o trabalhador não dispoe de plano de saúde, em muitos lugares ainda se carrega a marmita, a sonegação aos direitos mais elementares e constitucionais são desrespeitados, tais como: Falta de deposito do FGTS apesar de descontar dos operários, sonegam a previdência pública e passa o calote nas férias dos trabalhadores.
Um setor que aproveitou a baixa escolaridade dos trabalhadores (comparados as outras categorias) por décadas, fazendo-os exercer funções de operários qualificados (pedreiros, carpinteiros, eletricistas, encanadores, almoxarife etc.) e recebendo como ajudante comum ou meio oficial.
Aumentar a produtividade é algo muito bom e necessário, mas porque os empresários não querem investir na qualificação profissional? A mente retrógada do empresário da construção civil é que o setor é rotativo e poderá qualificar para o concorrente. Perde profissional quem é mal empregador, quem explora a mão de obra.
A pesquisa da CNI revela que faltam profissionais de nível básico, técnico e especializados, incluindo aí pessoal de escritório (gerencial), encarregados, mestres de obra e até engenheiros e arquitetos.
Precisamos pensar a qualificação profissional como uma necessidade urgente do setor como um todo. Há décadas as entidades sindicais vêem reivindicando qualificação profissional tanto dos empresários quanto dos governos. A verdade é que as empresas de construção civil não se prepararam para o crescimento do Brasil, para eles o importante era acumular lucros.
Não podemos esquecer que a terceirização, quarteirização e até quinteirização na construção civil desestimula qualquer pessoa a ingressar no setor, além de precarizar a mão de obra. A contratação de mão de obra através de terceiros, os chamados “gatos“ é outro problema verificado na construção civil, muito embora, estamos caminhando para a eliminação destes gatos nas grandes empresas, restando saber se as subcontratadas abolirão a contratação de mão de obra por terceiros.
As entidades sindicais por muitos anos combateram e continuam combatendo, as cooperativas de mão de obra e como se não bastasse, as empresas arrumaram outro jeitinho de passar o calote nos operários, criaram os consórcios. No caso das cooperativas o que vemos é uma empresa com um único dono que contrata sem carteira assinada e o que é pior não pagam os direitos trabalhistas. Já os consórcios, que são criados por duas ou mais empresas grandes do setor, que geralmente é para construir uma determinada obra, ao término se desfaz e os problemas ficam para os trabalhadores, principalmente os subcontratados por este consórcio.
Os empresários da construção civil precisam mudar sua postura e deixar de lado a mesquinharia, investir na qualificação profissional é apostar no futuro.
Miraldo Vieira é secretário geral da CONTRICOM - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário.
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