O pacote de maldades de Michel Temer, anunciado nesta semana pelo
banqueiro Henrique Meirelles, que ocupa o ministério da Fazenda, força o Brasil
a andar para trás e voltar aos tempos anteriores a 1985, quando vigiam as
regras da economia ditadas pela ditadura militar de 1964.
O pacote anunciado significa um recuo de mais de três décadas em
termos de política econômica. Só para recordar, Meirelles anunciou medidas que
fazem a felicidade do capital rentista e especulador, e despejam o peso da
crise econômica sobre o povo e os trabalhadores.
Direitos que resultaram de décadas de lutas populares e
trabalhistas foram simplesmente cancelados, numa penada!
O pacote de maldades é abrangente. Foi acompanhado pela aprovação,
na madrugada da terça-feira (25), pelo Congresso, da autorização para que o
governo tenha um deficit, este ano, de R$ 170,5 bilhões.
Este é um valor mal explicado, sendo em mais de R$ 50 bilhões
superior ao que o próprio ministério da Fazenda admitia na manhã da sexta-feira
(20), que chegava a R$ 114 bilhões. Até mesmo o jornal O Estado de S.
Paulo, alinhado ao golpe, noticiou esta variação absurda de valores afirmando
que o deficit anunciado é um exagero, sendo resultado de especulação.
Especulação terrorista, poderia ter dito. Aquele valor exagerado
tem a função de consternar o país e justificar os cortes orçamentários
impopulares que o governo ilegítimo pretende impor. As propostas de Emenda
Constitucional encaminhadas por Michel Temer reintroduzem uma política
neoliberal ainda mais radical que a praticada por Fernando Henrique Cardoso
durante os oito anos em que, à frente do governo federal, infelicitou o país.
As mudanças que Temer pretende impor limitam radicalmente os
gastos sociais do governo, entregam o pré-sal às petroleiras estrangeiras,
criam condições para privatizar todas as empresas estatais (a Petrobras entre
elas), inviabilizam o BNDES como banco de desenvolvimento, e eliminam o Fundo
Soberano, que é a poupança criada em 2008 como instrumento oficial para
enfrentar as crises, e que o capital rentista e especulativo nunca aceitou.
Os limites aos gastos públicos afetam diretamente os programas
sociais, de distribuição de renda e de fomento ao desenvolvimento nacional.
Pretendem eliminar a obrigação constitucional que reserva recursos para Saúde,
Educação, Reforma Agrária, Habitação Popular. Impedem os aumentos reais do
salário mínimo.
Para o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, que foi ministro de
Fernando Henrique Cardoso e rompeu com ele, “o objetivo é beneficiar os capitalistas
rentistas e financistas – os grandes vitoriosos do momento – para que paguem
menos impostos. É reduzir os salários diretos e indiretos”. E denuncia a
renitente tese neoliberal segundo a qual “a Constituição de 1988 não cabe no
PIB”, argumento falso e oportunista, que serve para beneficiar a ganância
especulativa e jogar sobre os ombros do povo e dos trabalhadores os custos da
crise criada pela própria especulação financeira e seu braço parlamentar
através da paralisia legislativa imposta ao país desde o início de 2015.
O economista João Sicsú reforça este argumento ao dizer que o
festival de limites de gastos públicos não afeta o principal deles – os
pagamentos de juros da dívida pública. “Aí”, diz ele, “não tem teto, não tem
limites, pode-se gastar quanto o governo desejar”.
Quem imaginava que o golpe midiático-judiciário-parlamentar contra
Dilma Rousseff foi feito para acabar com a corrupção pode avaliar agora a
extensão do conto em que caíram.
O governo ilegítimo e usurpador de Michel Temer revela, nestas
medidas, os objetivos principais do golpe. Um deles é deter a Lava Jato, como
ficou claro nas conversas, tornadas públicas, entre o ex-diretor da Transpetro
Sérgio Machado e expoentes do golpe e do governo ilegítimo.
Mas a principal tarefa do governo ilegítimo de Michel Temer é
impor, rapidamente e à margem da lei, mudanças programáticas que representam
uma mudança radical de orientação – o abandono de qualquer preocupação social,
democrática e com a soberania nacional, e a imposição dos privilégios do
capital financeiro e da especulação rentista.
FONTE: www.vermelho.org.br
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