terça-feira, 6 de agosto de 2013

Antônio Augusto de Queiroz: A fotografia e as razões da crise


O momento, portanto, requer atitude do governo. Precisa dar respostas adequadas, que levem em
consideração o pensamento dos setores afetados, sob pena de continuar patinando, sem sair do lugar.

Antônio Augusto de Queiroz*

A conjuntura do país, após as manifestações de junho, tem sido marcada pela desorientação política, pelo desarranjo social e pelo travamento da economia, como bem pontua o experiente consultor João Guilherme Vargas Netto.

Desorientação política simbolizada pelos erros do governo, que, com a mesma velocidade com que apresenta uma ideia, desiste de colocá-la em prática. Três exemplos ilustram bem isso: a Constituinte exclusiva, o plebiscito e o serviço obrigatório dos médicos.

O desarranjo social parece evidente, de um lado pela ausência de respostas consistentes aos protestos, de outro pela dificuldade de os setores organizados liderar ações capazes de organizar e levar o debate para o campo institucional, locus apropriado para formular as políticas públicas reclamadas nas ruas.

O travamento da economia, por sua vez, decorre da resistência empresarial em promover os investimentos, especialmente em infraestrutura, apesar dos incentivos fiscais, monetários e creditícios que o governo vem dando ao setor privado, como as desonerações de tributos, inclusive sobre a folha de salários.

Com o endividamento das famílias, a prioridade dada pela equipe econômica ao consumo ou ao mercado interno não garante mais o crescimento da economia nem do emprego e da renda, havendo a necessidade urgente dos investimentos produtivos.

Além disso, o governo possui pouca margem orçamentária para investimento e o setor privado – por insegurança, por boicote ao governo ou por discordância ideológica com a postura da presidente nas concessões públicas – não tem investido, apesar do “empossamento” do recursos.

A situação, portanto, não é das melhores. Ou o governo resgata a confiança dos consumidores e empresários, especialmente com mudanças na equipe econômica, para retomada imediata dos investimentos, ou a economia, num primeiro momento poderá estagnar e, no segundo, com o agravamento da crise, entrar em recessão, com perda de emprego e renda.

Boa parte dos problemas atuais poderiam ter sido evitados, caso tivesse havido diálogo com os agentes econômicos e sociais. Mas a presidente e seu governo – em particular o núcleo decisório da área econômica – resolveram se insular e tomar as decisões sem ouvir ninguém. É por isso, por exemplo, que tem sofrido derrotas no Congresso e recuado de muitas propostas feitas sem consultas prévias, como os recuos já mencionados neste texto.

O retrato parado é esse. Se nada for mudado, tanto na postura fechada da presidente e sua equipe econômica quanto na relação política com o Congresso e a sociedade, o quadro certamente irá piorar em lugar de melhorar.

O momento, portanto, requer atitude do governo. Precisa dar respostas adequadas, que levem em consideração o pensamento dos setores afetados, sob pena de continuar patinando, sem sair do lugar.

(*) Jornalista, analista político, diretor de Documentação do Diap. Publicado originalmente no portal Congresso em Foco

Fonte: Diap

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