Diferença na esperança de vida ao nascer entre mulheres e homens no Paraná cresceu 29,51% entre 1980 e 2010 – bem acima do índice nacional, de 18,12%.
O crime do Morro do Boi, ocorrido em Matinhos (Litoral) em janeiro de 2009, se tornou um dos casos policiais de maior repercussão da história do Paraná. Não só pela brutalidade da agressão - o estudante Osíris del Corso, então com 22 anos, foi assassinado e sua namorada, Monik Pegoraro, foi baleada e ficou paraplégica -, mas porque foi montada uma farsa para tentar livrar o verdadeiro autor do crime, Juarez Ferreira Pinto, que posteriormente foi condenado a mais de 65 anos de prisão.
Outras tragédias sucederam o caso do Morro do Boi no noticiário policial. Mas para a família e os amigos de Osíris del Corso não existe chance das coisas seguirem adiante. "O que a gente sente é algo que não consegue mudar mais. Meu avô dizia que não confiava no homem. O ser humano é capaz de qualquer coisa", lamenta o engenheiro Sérgio Luís del Corso, 61 anos, pai de Osíris.
"A gente fica mais forte. Por outro lado, com frequência sente que quer explodir por dentro. Ainda é muito difícil falar sobre isso. No começo, achei que se não me controlasse ia morrer do coração. Tem que encontrar um jeito de levar a vida", descreve.
A dor que atinge a família de Osíris del Corso é sentida por muitos outros brasileiros. As estatísticas apontam que as mortes violentas aumentaram muito no País a partir do início da década de 1980, e estão influenciando diretamente tendências demográficas – no Paraná, até mesmo acima dos patamares nacionais.
No início do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a notícia de que a expectativa de vida do brasileiro aumentou 11,24 anos entre 1980 e 2010, ao passar de 62,52 anos para 73,76. Historicamente, a população feminina apresenta esperança de vida ao nascer maior do que a masculina, e essa situação se manteve nos números do início da década. Em 2010, as mulheres brasileiras tinham expectativa de viver 77,38 anos, diante de 70,21 dos homens. Em 1980, entre as mulheres o índice era de 65,69 anos, e entre os homens, de 59,62.
O Paraná seguiu essas tendências, ao registar um acréscimo de 11,25 anos na expectativa de vida geral e vantagem nos números da população feminina (78,64 anos diante de um índice de 71,97 entre os homens em 2010; 30 anos antes, a expectativa era de respectivamente 66,78 e 61,63 anos).
É aí que a violência gera reflexos nos fenômenos demográficos brasileiros: tanto nacionalmente quanto localmente, em 30 anos foi registrado aumento da diferença na esperança de vida ao nascer entre os sexos. No Brasil, o fosso da expectativa de vida passou de 6,07 para 7,17 anos em três décadas, e no Paraná, o índice foi de 5,15 para 6,67.
O próprio IBGE aponta que a principal influência nessa mudança das estatísticas de mortalidade desde 1980 foi o crescimento vertiginoso da violência em todo o Brasil, e que atinge mais a população masculina. "Nas últimas décadas, um conjunto de causas de morte vem adquirindo destaque em função do seu crescimento. São as mortes por causas externas, que incluem os homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, afogamentos etc, que incidem com maior intensidade na população masculina e nas idades mais jovens", observam os pesquisadores.
"O fenômeno que se observa no Brasil é típico de países que experimentaram um rápido processo de urbanização e metropolização sem a devida contrapartida de políticas voltadas, particularmente, para a segurança e o bem-estar dos indivíduos que vivem nas cidades", concluem.
"A gente fica mais forte. Por outro lado, com frequência sente que quer explodir por dentro. Ainda é muito difícil falar sobre isso. No começo, achei que se não me controlasse ia morrer do coração. Tem que encontrar um jeito de levar a vida", descreve.
A dor que atinge a família de Osíris del Corso é sentida por muitos outros brasileiros. As estatísticas apontam que as mortes violentas aumentaram muito no País a partir do início da década de 1980, e estão influenciando diretamente tendências demográficas – no Paraná, até mesmo acima dos patamares nacionais.
No início do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a notícia de que a expectativa de vida do brasileiro aumentou 11,24 anos entre 1980 e 2010, ao passar de 62,52 anos para 73,76. Historicamente, a população feminina apresenta esperança de vida ao nascer maior do que a masculina, e essa situação se manteve nos números do início da década. Em 2010, as mulheres brasileiras tinham expectativa de viver 77,38 anos, diante de 70,21 dos homens. Em 1980, entre as mulheres o índice era de 65,69 anos, e entre os homens, de 59,62.
O Paraná seguiu essas tendências, ao registar um acréscimo de 11,25 anos na expectativa de vida geral e vantagem nos números da população feminina (78,64 anos diante de um índice de 71,97 entre os homens em 2010; 30 anos antes, a expectativa era de respectivamente 66,78 e 61,63 anos).
É aí que a violência gera reflexos nos fenômenos demográficos brasileiros: tanto nacionalmente quanto localmente, em 30 anos foi registrado aumento da diferença na esperança de vida ao nascer entre os sexos. No Brasil, o fosso da expectativa de vida passou de 6,07 para 7,17 anos em três décadas, e no Paraná, o índice foi de 5,15 para 6,67.
O próprio IBGE aponta que a principal influência nessa mudança das estatísticas de mortalidade desde 1980 foi o crescimento vertiginoso da violência em todo o Brasil, e que atinge mais a população masculina. "Nas últimas décadas, um conjunto de causas de morte vem adquirindo destaque em função do seu crescimento. São as mortes por causas externas, que incluem os homicídios, suicídios, acidentes de trânsito, afogamentos etc, que incidem com maior intensidade na população masculina e nas idades mais jovens", observam os pesquisadores.
"O fenômeno que se observa no Brasil é típico de países que experimentaram um rápido processo de urbanização e metropolização sem a devida contrapartida de políticas voltadas, particularmente, para a segurança e o bem-estar dos indivíduos que vivem nas cidades", concluem.
Trânsito e homicídios
Quando os dados são observados proporcionalmente, o aumento da diferença na expectativa de vida entre mulheres e homens foi maior no Paraná. Enquanto o fosso aumentou 18,12% nacionalmente, no Paraná a diferença cresceu 29,51% em 30 anos. Uma análise das mortes violentas em território paranaense permite entender por que o índice do Estado superou o nacional.
No Paraná, o número de assassinatos, que era inferior à média brasileira em 1980, tornou-se superior em 2010: segundo a pesquisa Mapa da Violência, do Instituto Sangari, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes passou de 11,7 para 26,2 nacionalmente, e no Paraná ela foi de 10,8 para 34,4. Além disso, também de acordo com informações do Instituto Sangari, a taxa de mortes no trânsito paranaense vem superando o índice nacional. Em 2008, foram 30,4 óbitos em acidentes de trânsito para cada 100 mil habitantes no Paraná, diante de 20,2 no País, segundo a pesquisa.
A população masculina é mais atingida por essa violência. De acordo com dados divulgados pelo Governo do Estado, no Paraná oito de cada 10 pessoas que morrem em acidentes de trânsito e nove entre 10 assassinadas são homens.
Quando os dados são observados proporcionalmente, o aumento da diferença na expectativa de vida entre mulheres e homens foi maior no Paraná. Enquanto o fosso aumentou 18,12% nacionalmente, no Paraná a diferença cresceu 29,51% em 30 anos. Uma análise das mortes violentas em território paranaense permite entender por que o índice do Estado superou o nacional.
No Paraná, o número de assassinatos, que era inferior à média brasileira em 1980, tornou-se superior em 2010: segundo a pesquisa Mapa da Violência, do Instituto Sangari, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes passou de 11,7 para 26,2 nacionalmente, e no Paraná ela foi de 10,8 para 34,4. Além disso, também de acordo com informações do Instituto Sangari, a taxa de mortes no trânsito paranaense vem superando o índice nacional. Em 2008, foram 30,4 óbitos em acidentes de trânsito para cada 100 mil habitantes no Paraná, diante de 20,2 no País, segundo a pesquisa.
A população masculina é mais atingida por essa violência. De acordo com dados divulgados pelo Governo do Estado, no Paraná oito de cada 10 pessoas que morrem em acidentes de trânsito e nove entre 10 assassinadas são homens.
Fonte: Folha de Londrina, 12 de agosto de 2013
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