As 
mortes provocadas pelo uso de artigos contendo amianto já resultaram no 
banimento do produto em 66 países. Na Itália, onde a utilização do amianto foi 
abolida em 1982, é alta a incidência de mortes entre os trabalhadores da 
construção civil, principalmente porque estes manipularam o produto sem qualquer 
proteção. Em estudo feito na região da Lombardia, no período de 2000 a 2010, ou 
seja, quase 20 anos após o amianto ter sido banido da região, ainda foram 
encontrados 3,5 mil casos de contaminação – a maioria das vítimas deve morrer 
nos próximos anos.
Os 
efeitos nocivos do produto são ressaltados pelo Critério de Saúde Ambiental 203, 
de 1998, da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o documento, “a 
exposição ao amianto crisotila aumenta os riscos de asbestose, câncer de pulmão 
e mesotelioma de maneira dependente em função da dose e que nenhum limite de 
tolerância foi identificado para os riscos de câncer”. Em função dos riscos 
inerentes ao uso do amianto, o Brasil adotou uma série de precauções para a sua 
utilização, como a Resolução 348, do Conselho Nacional do Meio Ambiente, de 
2004, que incluiu o amianto na classe de resíduos perigosos.
O 
pico de mortes no Brasil irá se apresentar, porém, somente por volta de 2020, 
pois é a partir de 20 anos do contato com o produto que a doença costuma 
aparecer. Só então os reflexos do uso do amianto (e o custo disso) começarão a 
ficar mais evidentes nos registros epidemiológicos da saúde pública.Mas, apesar 
dos muitos argumentos contrários ao uso do amianto, no Brasil a situação ainda 
não foi devidamente equacionada. O problema toma proporções maiores diante da 
destruição de telhados ocasionada pelas chuvas torrenciais que ocorrem todos os 
anos, causando estragos e prejuízos à população. A justificativa usualmente 
empregada é de que telhas de amianto são mais baratas. O que não se considera, 
porém, é o custo futuro que o uso do produto terá para o sistema público de 
saúde e, principalmente, para as próprias pessoas contaminadas. Isso porque, ao 
promover o conserto dos telhados, as pessoas e trabalhadores, sem qualquer 
proteção adequada, manipulam as telhas, que se dilaceram e liberam as fibras que 
podem se alojar no corpo humano – lembrando que basta uma única fibra para 
causar a morte. Já há, inclusive, casos deste tipo de situação registrados no 
Paraná.
Há de 
se considerar, portanto, que existem alternativas ao uso do amianto, compostas 
de matérias-primas substitutas, comprovadamente não agressivas à saúde coletiva. 
Isso significa que o banimento do amianto não implicará desemprego, já que não 
haverá fechamento de fábricas – as indústrias do segmento podem realizar a 
adaptação dos seus processos de produção e algumas já o fazem com duplicidade de 
produção, ou seja, com e sem amianto.
Por 
fim, é importante ressaltar, para fins ambientais, que os resíduos advindos das 
remoções de produtos para reparos nos telhados ou outros que contenham amianto 
devem ser encaminhados a aterros de rejeitos industriais, devidamente 
licenciados, sob a responsabilidade dos fabricantes e comerciantes para a sua 
correta destinação final. A adoção destas e de outras medidas se faz necessária 
e urgente, já que saúde e meio ambiente devem estar acima de pequenas economias 
que, eventualmente, possam ser feitas com o uso das telhas de 
amianto.
Saint-Clair 
Honorato dos Santos, procurador de Justiça, é coordenador do Centro de Apoio 
Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente do 
Ministério Público do Paraná.
Fonte: 
Gazeta do Povo, 05 de novembro de 2013
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