Em cenário de crise, pressão tende a aumentar no
ambiente de trabalho. É preciso haver equilíbrio entre a motivação e
produtividade esperada.
Por Marta Cavallini
A crise tem aumentado a taxa de desemprego e
causado insegurança entre os funcionários que ainda têm trabalho. Para
enfrentar a recessão, o empregador reduz custos, o que pode significar corte de
vagas ou até substituição de mão de obra para pagar salários mais baixos.
Assim, em momentos de cenário econômico e político incerto, a pressão tende a
aumentar no ambiente de trabalho para que os funcionários rendam mais e tragam
resultados.
Segundo especialistas da área de recursos humanos,
neste momento complicado do país, quem emprega e quem está empregado deve estar
atento a como proceder nas relações no ambiente de trabalho para que haja
equilíbrio entre a motivação e a produtividade esperada.
Veja abaixo o tira-dúvidas com dicas dos
especialistas de carreira Roberto Recinella e Bibianna Teodori.
Ouço constantemente que se eu não produzir mais
poderei ser mandado embora. O que eu faço?
Recinella: Independente de crise ou não, essa
possibilidade sempre existirá, pois a empresa sempre espera um aumento de produtividade.
Acredito que o correto seja produzir “melhor” ao invés de “mais”. De qualquer
modo, você deve sempre se autoavaliar para descobrir pontos de melhoria, por
exemplo, como administra o seu tempo, se os processos estão ajustados, se tem
consciência dos resultados que deve atingir. Você deve sempre buscar como
produzir mais e melhor com menos, isto é uma busca constante na vida
profissional.
Bibianna: Produza mais e dê o melhor de si. Seja
motivado, desempenhe, se desafie. Sempre podemos melhorar um pouco. Acredite
nas suas habilidades e competências. Pense na empresa onde você trabalha como o
seu melhor cliente e ofereça os melhores serviços.
Tenho medo de ser substituído por outro empregado
que ganhará menos que eu. Como faço para isso não acontecer?
Recinella: Existe um ditado que diz “Do couro sai a
correia”, sendo assim, você somente será substituído se não estiver alcançando
os resultados que justifiquem o seu salário. Nenhum gestor dispensa um
colaborador produtivo. Mas vale lembrar que só talento e trabalho duro não
garantem seu emprego, pois a percepção que as pessoas e a empresa têm sobre
você também é importante. Questione-se se você está realmente alinhado aos
interesses e políticas da empresa ou está apenas focado em pegar o seu salário no
final do mês.
Bibianna: Melhore o desempenho e a produtividade,
trabalhe com entusiasmo e dê o melhor de si.
Tem dias que eu fico esgotado de tanto estresse por
causa da pressão da chefia. Posso pedir demissão?
Recinella: Pedir demissão é um direito seu, mas
avalie bem antes de tomar a decisão, pois eu não conheço nenhuma empresa onde
não exista pressão e estresse na eterna busca de resultados melhores. Isso faz
parte do “jogo”, sendo assim, aprenda a lidar com esse “esgotamento”,
descobrindo o que o incomoda, a origem do problema, identificando os agentes
estressantes e fazendo pequenos ajustes. Expor a situação aos colegas e o chefe
também auxilia na resolução do problema.
Bibianna: O estresse se manifesta quando os pedidos
do empregador superam a capacidade do trabalhador de enfrentá-las. O estresse
não é uma doença, mas pode provocar problemas de saúde mental e física, como
depressão, esgotamento físico, irritação e problemas ligados ao coração.
Trabalhar sob pressão oferece satisfações quando se consegue alcançar metas e
objetivos. Do contrário, quando os pedidos e o jeito da chefia de pressionar os
funcionários são excessivos, vem o estresse.
Se os defeitos e o jeito de trabalhar do seu chefe
estão afetando a sua produtividade, então é hora de mudar. Após um tempo,
alguns postos de trabalho acabam afetando o desempenho dos funcionários, não
empolgando mais e deixando-os estressados. Então, avalie a situação e pense se
é o caso de pedir demissão.
Tenho vontade de ir para uma empresa melhor. Posso
procurar emprego, pedir demissão ou espero a crise passar?
Recinella: Nada o impede de procurar emprego numa
empresa melhor com crise ou não, mas sugiro que apenas peça demissão após
conseguir a sua recolocação. A questão a ser levantada é o que faz, em sua
opinião, uma empresa ser melhor ou pior e por que você não considera a sua
empresa melhor. Será que não existe possibilidade de você crescer em sua
empresa? E finalmente, como você se enxerga como colaborador na empresa, melhor
ou pior? Faço esses questionamentos para que você reflita se o problema é a
empresa ou você.
Bibianna: Querer algo, sonhar com uma situação
melhor é o primeiro passo rumo a uma vida mais feliz. De qualquer forma, é
sempre importante avaliar a situação. Faça uma análise da sua situação atual.
Você tem dívidas? Tem a escola dos filhos que precisa pagar todos os meses?
Atualmente há uma insatisfação geral e só se fala de crise. É importante
entender se há a coragem de mudar de verdade, de se desafiar, de sair da zona
de conforto. O que você quer manter do seu trabalho atual? O que gosta de
verdade? O que não gosta e o que não quer que esteja presente no outro emprego?
É importante ter claro isso. A nossa mente se foca sempre sobre as coisas de
que não gostamos e esquecemos de pensar no que queremos de fato. Para pensar em
algo melhor, reflita o que seria “algo melhor”, “empresa melhor”, os valores
nos quais você se alinharia.
Tenho vontade de ir para um ambiente de trabalho
mais harmonioso para trabalhar. É o momento de mudar?
Recinella: Sempre acreditei que um ambiente de
trabalho harmonioso é conquistado pelos colaboradores da empresa, ou seja, as
pessoas fazem o ambiente. Lembro-me de uma reflexão que explica o motivo pelo
qual quando você muda de cidade, emprego, relacionamento etc., na maioria das
vezes, não alcança o resultado desejado, isso ocorre porque você vai junto.
Experimente uma vez você mudar ao invés de mudar as coisas ao seu redor.
Bibianna: O que você entende por mais harmonioso? O
que deveria acontecer na empresa onde você está para deixá-la mais harmoniosa?
Qual é a empresa que você considera mais harmoniosa? Refletindo sobre isso,
você começa a obter um quadro mais complexo e melhor definido do problema.
Consequentemente, entende melhor o que quer. Uma vez enfrentado esse passo de
preparação, pode começar a procurar.
Posso tentar mudar de setor dentro da mesma empresa
ou isso pega mal?
Recinella: Muitos especialistas recomendam que você
mude de setor sempre que possível. É o chamado “job rotation” (job – trabalho e
rotation - rotação, variação). Essa prática consiste basicamente no aprendizado
do colaborador em outros setores ou cargos. Os gestores afirmam que para o
colaborador se tornar um profissional completo deve aprender no dia a dia como
funcionam os demais setores da empresa, melhorando o desempenho em suas
funções. Além disso, é uma ótima oportunidade para tirar o colaborador da sua
zona de conforto.
Bibianna: Se você acha que mudando de setor pode
conseguir resultados melhores para a empresa e se sentir mais realizado, isso
pode ser melhor para todos. O que adianta estar num setor e trabalhar
insatisfeito?
Quando posso me mexer para tentar mudar de emprego?
Só quando eu perceber que a crise está passando?
Recinella: Você deve se mexer para tentar mudar de
emprego sempre que julgar que não está mais contribuindo e produzindo na
empresa, quando não tem mais chances de crescimento ou sentir que a sua
carreira está estagnando. Mas qualquer que seja o seu motivo, você deve
planejar com antecedência e pensar muito sobre suas opções. Eu não me
preocuparia com crise, pois em minha opinião quanto maior a crise mais os bons
profissionais são valorizados no mercado. A pergunta que você deve se fazer é
“Eu sou um bom profissional desejado pelo mercado?”
Bibianna: É importante o profissional analisar o
mercado em que ele atua e a sua carreira. Antes de aceitar um novo emprego, é
importante responder a si mesmo algumas perguntas, como: há quanto tempo está
na empresa? Como está a sua carreira? Quanto você está ganhando? Qual seria o
salário que o mercado oferece para o mesmo cargo? Quais seriam os benefícios da
empresa onde você se imagina trabalhando?
Trocar de emprego só pelo salário não vale a pena.
Pode encontrar outros problemas e se frustrar. É imprescindível que, quando
aceitamos um novo emprego, se ofereça a oportunidade de crescimento
profissional, benefícios, desafios. Mexer-se é sempre bom, mas é fundamental
entender o porquê quer “se mexer”, o que na empresa atual não está agradando
mais.
O profissional pode permanecer 20 anos numa empresa
e ter desafios. Não há um tempo determinado para a troca de emprego. É
importante mudar quando no trabalho achamos que não há mais desafios, não há
mais crescimento profissional. Antes de mudar, também é sempre bom lembrar que
a troca constante de emprego não é favorável para a carreira. Precisamos de
tempo para obter resultados e para nos adaptar.
Que dicas você dá para que as coisas andem de forma
harmoniosa e, assim, os resultados sejam atingidos e todos fiquem satisfeitos?
Recinella: Você vai ter que se adaptar a aprender a
trabalhar mais com menos e tolerar a pressão por resultados que irá surgir
neste período. Comprometimento e flexibilidade serão diferenciais nesta fase.
Eu sugiro que você seja proativo e converse com o seu líder sobre como as suas
competências podem auxiliar neste período de turbulência. Lembre-se: faça parte
da solução e não do problema. Historicamente, todos que passam por períodos de
crise saem mais fortes e experientes.
Fonte: Portal G1, 5 de maio de
2016.
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