"Nosso Blog é destinado único e exclisivamente para levar notícia do movimento sindical, dos trabalhadores e uma espécie de prestação de contas dos nossos mandatos (FETRACOM/BA E CONTRICOM), mas, peço desculpas aos leitores para publicar a matéria abaixo, como forma de indignação."
Alex RodriguesRepórter da Agência Brasil
Brasília - Mães chorando a morte de filhos. Jovens velando a memória de
pais. Mulheres lamentando a ausência de seus companheiros. Em comum, eles têm a
esperança de ver solucionados os crimes que vitimaram seus parentes.
Emocionados, muitos deles aproveitaram a reunião extraordinária do Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), ontem (19), em Goiânia, para
relatar a luta de quem tenta descobrir informações sobre desaparecidos após
abordagem policial ou espera que os responsáveis pelas execuções sejam
punidos.
O CDDPH esteve na capital goiana para debater a violência no estado. A
existência de denúncias sobre a participação
de policiais militares em supostas execuções sumárias, desaparecimentos e
arbitrariedades – apresentadas no relatório Insegurança Pública em Goiás:
Anacronismo e Caos, produzido pela Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa de Goiás – levou o órgão a marcar a reunião.
Um
dos casos mais emblemáticos documentado no relatório é o de Murilo Soares
Rodrigues. Murilo tinha 12 anos quando desapareceu, em abril de 2005. Segundo
sua mãe, Maria das Graças Soares, a Graça, o garoto tinha visitado o pai, em
Goiânia, e voltava para casa de carona com um conhecido quando o carro em que
estavam foi abordado por policiais da Rotam. O jovem que levava Murilo era Paulo
Sérgio Pereira Rodrigues, 21 anos, e, de acordo com Graça, era conhecido da
polícia por ter antecedentes criminais.
“Como meu ex-marido ia viajar, pediu para o Paulo levar o Murilo de volta
para casa. No meio do caminho os policiais pararam o carro. Depois disso, eu
nunca mais vi meu filho”, contou à Agência Brasil. Segundo ela,
Murilo estava no lugar errado, na hora errada e com a pessoa errada. Paulo
Rodrigues também está desaparecido desde então.
“Vinte e oito pessoas testemunharam os policiais revistando o Paulo enquanto
o Murilo permanecia encostado no carro, com as mãos no bolso. O carro foi
encontrado no dia seguinte, carbonizado, sem a aparelhagem de som e sem as
rodas, mas os corpos nunca foram encontrados.”
Seis policiais militares foram indiciados pelo desaparecimento de Murilo e de
Paulo, chegaram a ser detidos, mas logo foram absolvidos por falta de provas.
Passados mais de sete anos, o caso ainda está inconcluso, aguardando que os
recursos sejam apreciados.
“Disseram que, como não tinha um corpo, não havia como provar nada. Eu luto
para achar e enterrar meu filho, para dar um lugar digno para ele, mas nunca
tive nenhuma notícia. Até hoje eu recebo ameaças. Cada vez que dou uma
entrevista, me ligam de números confidenciais, tarde da noite, me ameaçando e
perguntando porque não me calo”, contou Graça, que não teme divulgar o número
de seu celular nos folhetos em que pede a ajuda de quem tiver alguma informação
sobre o caso.
“Eu não vou desistir. Mesmo tendo visto tantos outros casos que nunca foram
esclarecidos. Nunca vi um policial preso ou condenado por essas mortes, que são
muitas, e eles dizem que acontecem durante confrontos com a polícia”, destacou
Graça.
Outro caso marcante foi o da retirada, em 2005, das famílias que há mais de
um ano ocupavam um terreno no bairro Parque Oeste Industrial, na capital goiana.
De acordo com o relatório da comissão estadual, 1.863 homens foram mobilizados
para retirar cerca de 5 mil famílias. A operação resultou, segundo o
relatório, em duas mortes, 14 feridos, 800 detidos e vários desabrigados. Os
mortos foram Vagner da Silva Moreira e Pedro Nascimento.
“Os policiais já chegaram atirando. Eles tinham tanta certeza da impunidade
que, além de matar o Vagner, marcaram as mãos dele com um ferro em brasa. O
Pedro foi baleado pelas costas enquanto tentava fugir. Depois os policiais ainda
bateram muito nele e o deixaram algemado, debaixo do sol, sem que ninguém
pudesse prestar socorro”, contou Eronilde Nascimento, a partir do relato de quem
presenciou os últimos minutos de vida de seu marido.
Parentes do advogado David Sebba Ramalho e do comentarista esportivo Valério
Luiz, dois dos três casos
mais recentes relatados pela comissão estadual, também participaram da
audiência do CDDHP.
“O caso é ilustrativo da inoperância institucional e do comprometimento que
começa com a Secretaria de Segurança Pública. O assassinato do David foi uma
execução sumária”, declarou o irmão do advogado, Pedro Ivo Sebba, questionando a
versão oficial sobre a ação dos policiais do serviço de inteligência da PM que
resultou na morte de David.
“Meu pai foi executado com sete tiros, na porta da rádio onde trabalhava, em
plena luz do dia. Quem executou uma ação assim tão ostensiva só podia estar
absolutamente confiante de que nada iria acontecer com eles, senão teriam sido
mais discretos e cuidadosos. É isso o que mais revolta: saber que há, no estado,
pessoas que acreditam que podem fazer algo tão absurdo sem sofrer qualquer
consequência”, acrescentou Valério Luiz Filho.
Nenhum representante do governo participou da audiência do CDDHP. Em nota
enviada à Agência Brasil na última terça-feira (18), a
Secretaria da Segurança Pública e Justiça garantiu que o governo
goiano não é conivente com qualquer desvio de conduta de seus servidores e
que, comprovadas as denúncias, os envolvidos são punidos. Somente nos últimos
três anos, 55 integrantes da Polícia Militar foram expulsos da corporação.
Edição: Lílian Beraldo
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