Ex-presidente
dá a veículos mantidos pelos trabalhadores primeira grande entrevista depois de
ter deixado o governo.
A
reportagem é de João Peres e Paulo Donizetti e publicada pela Rede Brasil
Atual
“Se
tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho cócegas na garganta para
falar. E vocês ajudaram a quebrar um tabu, porque fazia tempo que eu não falava
durante tanto tempo. E nunca imaginei que justamente pra vocês eu fosse dar a
entrevista mais difícil. Estou voltando, com muita vontade, com muita disposição
– para felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o seguinte: eu estou no
jogo.” Assim Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a entrevista concedida nesta
terça-feira (24) a um grupo de jornalistas da Rede Brasil Atual, site, rádio e
revista, da TVT e do jornal ABCD Maior.
O
encontro ocorreu no Instituto Lula, durou 90 minutos e foi, segundo o
ex-presidente, a primeira longa entrevista concedida pelo ex-presidente da
República no exercício desta “função”. Lula abriu a conversa dizendo não haver
“pergunta proibida”, mas pediu que o perdoassem se no excesso de cuidados de
ex-presidente ao falar pareceria “chapa branca”.
"Ainda
estou aprendendo a ser ex-presidente", disse. Ele comentou a importância das
manifestações de junho, que considera o acontecimento do ano ao colocar em xeque
todos os governantes – das prefeituras à Presidência da República – e por ter
ajudado a criar uma nova agenda política para o país – apesar do fato de
“alguns” quererem se apropriar das manifestações para desqualificar a política.
“Se alguém chega pra você dizendo 'olha, eu não gosto de política, mas...', pode
crer, essa pessoa está sendo política.”
O
ex-presidente comentou respostas dadas às manifestações, como o Mais Médicos,
teceu duras críticas aos opositores do programa e enfatizou que a iniciativa
cobre apenas uma pequena parte de um grande problema. Lembrou que o país não
dispõe nem de especialistas nem de tecnologia em diversas áreas, e que não vai
resolver os grandes problemas sem recursos. “Lá atrás, quando rejeitaram a CPMF,
tiraram R$ 40 bilhões por ano da saúde achando que iam prejudicar o Lula. Mas
prejudicaram o povo”, disse, acentuando que o Estado é quem banca grande parte
dos tratamentos dos ricos na rede privada, quando deduzem suas despesas do
imposto de renda, enquanto aos pobres só resta o SUS.
Lula disse
acreditar que poucos prognósticos poderão ser feitos sobre as eleições de 2014
antes de março do ano que vem, quando já devem estar colocados todos os nomes
das disputas, em nível nacional e nos estados. Um dos principais articuladores
políticos do PT, ele afirma que seu papel no processo será o “papel que a Dilma
quiser” que ele tenha. Admite ver dificuldades na permanência do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, na base de apoio, vê obstáculos adicionais nas
alianças com o PSB em alguns estados, como Ceará e Pernambuco, e vai considerar
um grande feito, uma vez consolidada a ruptura, que os partidos façam um pacto
de não hostilidade nos palanques em que forem adversários.
Para Lula,
a mais importante das reformas do país é a política, com o fim do financiamento
privado de campanhas. “Vocês veem as grandes empresas fazendo campanhas contra o
financiamento privado? Vocês veem empresários reclamando que não querem
contribuir com campanhas eleitorais?”, questiona. Ele reconhece que a atual
composição do Congresso não tem interesse nem força para fazer uma mudança
impactante no sistema político-eleitoral porque põe em risco os próprios atuais
mandatos. “Uma reforma para valer não vai acontecer agora. Por isso, vai ter de
ser feita por meio de uma constituinte exclusiva, com ampla participação da
sociedade.”
E
abordou também a necessidade de um novo marco regulatório das comunicações – “há
um projeto, o Paulo Bernardo disse que ia fazer debates públicos, mas não
andou...” –, lamentou a ausência de projetos do governo do PSDB para o estado e
a região metropolitana de São Paulo, e criticou a forma como “alguns” tentam
“transformar coisas boas em coisas ruins”, referindo-se à realização da Copa de
2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil.
O
ex-presidente foi cauteloso ao comentar o julgamento da Ação Penal 470, o
chamado mensalão, porque diz ter de respeitar as instituições envolvidas na
questão. “Depois que o julgamento estiver totalmente concluído eu vou falar. E
tenho muita coisa pra falar”, disse, ressalvando que, no que diz respeito à
abordagem política do caso, os acusados já foram condenados há muito
tempo.
A TVT
exibe os principais trechos da entrevista no programa no seu site. Nessa
quarta-feira, dia 25, a Rádio Brasil Atual também veicula outros momentos da
entrevista, no programa que pode ser ouvido a partir das 7h em São Paulo (FM
98,9), litoral paulista (FM 93,3) e noroeste paulista (FM 102,7). Logo mais, à
noite, a RBA e o site do ABCD Maior publicam a íntegra da entrevista.
Fonte:
IHU, 25 de setembro de 2013