Do ponto de vista formal, a presidenta eleita Dilma Rousseff está sendo
submetida a um julgamento. Há espaço para testemunhas de defesa, acusação e,
dentro de algumas semanas, os senadores darão seu veredito na comissão especial
de impeachment.
No entanto, por
mais que se trate de um julgamento de natureza política, a Constituição
brasileira garante que nenhum presidente pode ser afastado sem que tenha
cometido crime de responsabilidade. Ou seja: é isso o que confere o caráter
também jurídico ao processo.
FOTO: Roberto Stuckert Filho
FOTO: Roberto Stuckert Filho
No processo em
curso, Dilma é acusada por professores de direito ligados ao PSDB, partido
derrotado nas últimas eleições presidenciais, de ter infringido a Lei de
Responsabilidade Fiscal, com suas “pedaladas fiscais”, que seriam “operações de
crédito disfarçadas”.
No entanto, ontem,
o Ministério Público Federal, que é o titular de qualquer ação penal,
determinou o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da
União, apontando que nem houve operações de crédito e que, além disso, as
chamadas “pedaladas” não configuram ilícito penal.
Numa situação de
normalidade democrática, o impeachment seria sumariamente arquivado, como defendeu
a senadora Gleisi Hoffmann. Além disso, toda a imprensa nacional destacaria que
a presidenta Dilma Rousseff, eleita por 54 milhões de brasileiros, foi
inocentada do crime que lhe é imputado por adversários políticos.
No entanto, a
notícia do pedido de arquivamento feito pelo Ministério Público foi solenemente
ignorada por jornais como Folha de S. Paulo e Valor Econômico. O Estado de S. Paulo e O Globo a registraram, mas sem destaque em sua
primeira página.
Isso demonstra que
a imprensa brasileira, que apoia o golpe parlamentar de 2016 assim como apoiou
o golpe militar de 1964, nem se preocupa mais em manter as aparências. O
julgamento de Dilma é apenas um simulacro, onde todos os atores parecem já
conhecer, de antemão, o resultado.
No entanto, por
mais que seja um jogo de cartas marcadas, a decisão do Ministério Público
Federal coloca os 81 senadores diante de uma saia justa: como condenar a
presidenta Dilma por “crime de responsabilidade”, se o próprio MPF, titular da
ação penal, garante que não houve crime?
Fonte: Brasil 247.
Extraído de www.fetraconspar.org.br
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