Na fase atual, o sindicalismo ainda procura jogar um papel mais 
protagonista na mobilização, conscientização e organização dos trabalhadores. A 
vitória de Dilma Rousseff em outubro de 2010 não alterou substancialmente a 
correlação de forças no país. A presidenta dá continuidade, com alguns ajustes, 
ao ciclo político inaugurado por Lula. As forças neoliberais perderam influência 
no terreno partidário-eleitoral, com a desintegração do DEM e a crise do PSDB, 
mas ainda tem poderosos instrumentos de pressão na sociedade – principalmente 
através do capital financeiro e da mídia privada, hoje o principal partido da 
direita nativa.
Os avanços políticos e sociais conquistados nos últimos dez anos foram 
significativos, mas insuficientes. Os protestos de rua deflagrados a partir de 
junho evidenciam que a sociedade quer mais – ela deseja mudanças estruturais no 
país. As manifestações juvenis exigiram mais saúde, educação, mobilidade urbana 
e mais democracia, contra o poder corruptor dos ricos. Os setores de direita, 
inclusive de cunho fascista, tentaram capturar os protestos de rua e manipular a 
sua pauta. Não conseguiram total êxito, mas não desistiram do seu projeto.
Já o sindicalismo não fugiu das ruas e também tentou emplacar suas justas 
demandas. Dois protestos unitários foram organizados pelas centrais sindicais na 
luta pela pauta trabalhista – redução da jornada de trabalho sem perda salarial, 
fim do fator previdenciário, contra o projeto que amplia a nefasta 
terceirização, entre outros itens. Já em setembro, importantes greves foram 
deflagradas – como a paralisação nacional dos bancários e a mobilização dos 
petroleiros contra os leilões do pré-sal.
Os rumos do Brasil estão em disputa – o que deverá se acirrar ainda mais em 
2014, ano de novas eleições presidenciais. Neste contexto, o sindicalismo tem 
importante papel a desempenhar. As ruas demonstraram que é urgente avançar nas 
mudanças – superando os entraves neoliberais e viabilizando as reformas 
estruturais. Ao mesmo tempo, é preciso evitar qualquer risco de retrocesso 
político. No terreno propriamente trabalhista, os perigos também são grandes. 
Sob o argumento da crise capitalista mundial, as entidades patronais persistem 
na defesa de medidas contrárias aos anseios dos trabalhadores. Vários projetos 
de lei em debate no Congresso Nacional visam retirar direitos trabalhistas, com 
o que amplia a terceirização.
Neste processo de retomada da sua organização e da capacidade de mobilização, 
após a avalanche do neoliberalismo, o movimento sindical tem inúmeros desafios 
pela frente. Entre outros, ele precisa intensificar e aperfeiçoar a sua relação 
com a juventude, que possui novas demandas, anseios e linguagens. O mundo do 
trabalho passa por intensas alterações. Os jovens ocupam cada vez mais espaços 
nas empresas. Eles desconhecem a história das conquistas trabalhistas, não 
possuem cultura sindical e muitos são formados numa visão individualista, 
tecnicista. A forma de se comunicar com a juventude exige mudanças de 
comportamento, mais criatividade e audácia na atuação sindical.
Outros dois grandes desafios da atualidade são os da formação e da 
comunicação. O processo de renovação das lideranças é muito lento no Brasil, o 
que decorre, entre outros fatores, dos retrocessos dos tempos neoliberais. É 
urgente investir na formação para reciclar os dirigentes com certa experiência e 
para formar novos líderes. Para avançar nas lutas é necessário aumentar o time 
de lutadores organizados e formados. A luta de ideias na sociedade hoje é bem 
mais complexa e difícil. As empresas adotam técnicas de gerenciamento que visam 
cooptar os trabalhadores, estimular a concorrência no seio da própria classe e 
afastá-los dos sindicatos. Já a mídia privada estimula o individualismo e 
consumismo, que também dificulta a ação organizada dos trabalhadores.
Além de priorizar a formação, os sindicatos necessitam apostar a comunicação, 
investindo mais no setor, apropriando-se das novas ferramentas (como a internet) 
e aprimorando sua linguagem. Sem formação e comunicação dificilmente o 
sindicalismo conseguirá superar as dificuldades atuais para mobilizar, 
conscientizar e organizar a classe dos trabalhadores.
Por último, entre os desafios da atualidade, cabe destacar a importância da 
unidade. O Brasil possui mais de 13 mil sindicatos e nove centrais sindicais – 
cinco delas legalizadas. As batalhas de cada categoria por seus direitos cumprem 
importante papel, mas são insuficientes para promover mudanças mais profundas no 
país e para garantir maiores conquistas para o conjunto da classe. É urgente 
superar a fragmentação e a atomização das nossas lutas. É preciso, ainda, 
superar as divisões no nosso campo. Só a unidade de classe dos trabalhadores, 
respeitando sua pluralidade e diversidade, é que garantirá os avanços 
necessários no enfrentamento da barbárie capitalista e na construção dos 
caminhos para a emancipação, para o socialismo!
Altamiro Borges é é jornalista, blogueiro e presidente do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé.

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