O governo tentou, mas na prática não 
conseguiu apertar as regras para pagamento do seguro-desemprego. A medida, que 
tem como objetivo reduzir os gastos com esse benefício, não vingou. De cada 100 
pessoas que pediram o auxílio nos dois últimos meses do ano passado, 96 foram 
liberadas da exigência de se matricular em um curso de qualificação 
profissional.
Segundo dados obtidos pelo Estado, 
dos 744.056 desempregados que solicitaram o seguro pela segunda vez ou mais em 
dez anos em todo o País, um total de 30.918 foi obrigado a se pré-matricular em 
aulas de reciclagem – 4% do total.
A quantidade de pessoas que, de 
fato, fizeram o curso pode ser ainda menor que os quase 31 mil demitidos, já que 
esse levantamento não mostra se os beneficiários chegaram a efetivar a matrícula 
em uma das instituições que oferecem cursos de qualificação profissional por 
meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
Embora os Ministérios do Trabalho e 
da Educação tenham divulgado uma convergência nos sistemas dos órgãos, não é 
possível acompanhar a frequência de cada um dos segurados nos cursos e, muito 
menos, se eles conseguiram emprego depois da qualificação.
Nova regra. De abril de 2012 
até outubro do ano passado, os cursos só eram obrigatórios para quem pedisse o 
seguro-desemprego pela terceira vez ou mais em um período de dez anos. A partir 
de novembro, uma nova regra estabeleceu que a exigência valeria a partir do 
segundo pedido. O governo chegou a cogitar restringir ainda mais o pagamento, 
com a imposição de que todos os beneficiários voltassem à sala de aula.
No entanto, faltam cursos para os 
desempregados. Para ser liberado de frequentar a reciclagem basta que no momento 
em que pedir o seguro-desemprego não haja cursos disponíveis na área de atuação 
do beneficiário – levando em conta suas últimas ocupações – ou na região próxima 
de onde ele mora.
O professor de Economia da 
Universidade de São Paulo (USP), Hélio Zylberstajn, defende que o treinamento 
seja feito pelas empresas que quiserem contratar, para atender o que o mercado 
precisa e garantir o emprego. "O que mostram as experiências brasileira e a 
internacional é que é zero o impacto desses cursos que são desenhados para o 
exército de desempregados", afirmou. "É um desperdício de recursos 
públicos."
Flávio Sabino Amurim, 36 anos, 
concluiu há mais de um ano o curso de agente de informações turísticas pelo 
Instituto Federal de Brasília (IFB), mas até hoje está desempregado, embora 
afirme que deixou currículos em todos os hotéis da capital federal. Ele diz que 
foi orientado a fazer o curso, mesmo nunca tendo trabalhado na área, com a 
justificativa de que os grandes eventos esportivos no Brasil ampliariam a oferta 
de emprego. Ele diz que o curso não foi em vão porque conseguiu atuar, como 
voluntário, na Copa das Confederações. "Tomara que algum gerente de hotel retire 
meu currículo do fundo da gaveta e me chame para trabalhar antes da Copa."
CRONOLOGIA - Regras do benefício
16 de abril de 2012
Decreto condiciona o pagamento do 
seguro-desemprego à frequência em cursos de qualificação para quem fizer pedido 
pela terceira vez em dez anos.
10 de outubro de 2013
Decreto condiciona benefício à 
frequência em cursos para quem fizer o pedido pela segunda vez em dez anos. 
Medida entra em vigor em novembro.
31 de outubro de 2013
O ministro Guido Mantega disse que o 
governo estudava exigir que todo trabalhador demitido fizesse o curso a partir 
do primeiro pedido do benefício.
Fonte: Agência Estado
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