O Ministério Público Federal (MPF) aponta, em todo o Brasil,
dificuldades em aplicar penas a crimes de trabalho escravo. Segundo o
órgão, de 2010 a 2013, o número de investigações do MPF aumentou em mais
de 800%. Apesar disso, no mesmo período, não houve no país nenhuma
execução criminal referente à prática.
Segundo o MPF isso se deve à demora na conclusão dos julgamentos. No
país, de 2010 a 2013 foram ajuizadas 469 ações por redução a condição
análoga à de escravo, como péssimas condições de trabalho e restrição do
direito de ir e vir; 110 por frustração dos direitos trabalhistas; e 47
por aliciamento de trabalhadores de um local para o outro do território
nacional. Os dois últimos são indicadores da existência de trabalho
análogo ao escravo. A pena para a prática é a reclusão de 2 a 8 anos e
multa.
Para buscar uma solução para a situação, o MPF vai, ainda esta semana,
pedir ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que esses casos sejam
priorizados e que as ações ajuizadas de 2010 a 2013 sejam julgadas em
definitivo até dezembro de 2014.
"Os prazos são longos, do dia que o MP ajuiza uma denúncia até o dia que é feita a primeira audiência pública. Em crimes dessa natureza, em que as testemunhas moram em lugares distantes e muitas vezes são companheiros ou conhecidos das vítimas, elas não têm paradeiro certo. Muitas vezes é difícil localizá-las", diz a coordenadora da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, Raquel Dodge.
"Os prazos são longos, do dia que o MP ajuiza uma denúncia até o dia que é feita a primeira audiência pública. Em crimes dessa natureza, em que as testemunhas moram em lugares distantes e muitas vezes são companheiros ou conhecidos das vítimas, elas não têm paradeiro certo. Muitas vezes é difícil localizá-las", diz a coordenadora da 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, Raquel Dodge.
Raquel explica que o período dos últimos quatro anos foi escolhido por
não apresentar risco de prescrição do crime, ou seja, a perda do direito
de punir. Em geral, nesses casos, a prescrição não passa de quatro
anos, considerando a pena aplicada.
No Brasil, 2.232 investigações de crimes relacionados à prática de
trabalho escravo - que incluem a frustração de direitos e aliciamento -
estão em andamento. O crime é mais comum em áreas rurais, em carvoarias,
confecção de roupas, construção civil e para fins de exploração sexual.
São Paulo lidera o número de investigações, 492. O estado é seguido
pelo Pará (308), Minas Gerais (231) e Mato Grosso (140).
Consideradas apenas as investigações por redução a condição análoga a
de escravo, o Pará lidera a lista, com 295, seguido por Minas Gerais
(174) e Mato Grosso (135). São Paulo cai para a quarta posição, com 125
investigações em curso. Os dados foram apresentados hoje (28), Dia
Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. O MPF aproveitou a ocasião para
lançar a Campanha MPF no Combate ao Trabalho Escravo, que tem o objetivo de conscientizar a população de uma prática muitas vezes velada e difícil de ser identificada.
"A escravidão contemporânea não é facilmente percebida pela sociedade.
Ao vermos pessoas, por exemplo, na construção civil, mesmo que em
condições precárias, não associamos ao trabalho escravo", diz a
coordenadora do Grupo de Trabalho Escravidão Contemporânea, Maria Clara
Noleto.
Em cartilha, o MPF esclarece que qualquer pessoa que tenha notícia da
prática de trabalho escravo pode fazer a denúncia nos órgãos que
integram a Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo
(Conatrae), nas superintendências regionais do Trabalho e Emprego e nas
associações civis de defesa dos direitos humanos, sindicatos dos
trabalhadores, dentre outros. A denúncia pode ser feita também pela internet.
Editor Fábio Massalli
FONTE: EBC
Nenhum comentário:
Postar um comentário