A regulamentação da terceirização é uma
necessidade, tanto para assegurar direito aos trabalhadores, quanto para dar
segurança jurídica a quem contrata os serviços. Mas o texto proposto não se
presta a esse propósito. Ele pretende apenas ampliar o escopo da terceirização e
precarizar direitos trabalhistas.
Antônio Augusto de Queiroz*
O debate sobre o PL 4.330/04, que trata da regulamentação da terceirização, precisa ser melhor compreendido, diante da postura dos empresários, do governo, dos parlamentares, dos magistrados e dos trabalhadores.
A regulamentação da terceirização é
uma necessidade, tanto para assegurar direito aos trabalhadores, quanto para dar
segurança jurídica a quem contrata os serviços. Mas o texto proposto não se
presta a esse propósito. Ele pretende apenas ampliar o escopo da terceirização e
precarizar direitos trabalhistas.
Nesse debate os atores se
movimentam com visão e interesses nem sempre convergentes, como se pode
depreender da leitura dos próximos parágrafos.
O setor empresarial tem jogado
todas as fichas nesse projeto, incluindo os empresários que não atuam no ramo da
intermediação de mão-de-obra, porque o texto será o primeiro e fundamental passo
na direção do completo desmonte do Direito do Trabalho, além de criar a
possibilidade de contratar serviços bem mais baratos em substituição aos
empregados próprios.
Os empresários, que são os
principais financiadores de campanha no País, estão pressionando os
parlamentares para que votem a matéria. Estima-se que uma eleição para a Câmara
não fique por menos de R$ 2 milhões, daí a tentação de os parlamentares apoiarem
a tese empresarial de precarização do trabalho.
O governo, infelizmente, não tem
uma posição clara sobre o tema, ficando omisso no debate dessa relevante
matéria.
Nem o fato de o ex-presidente Lula
ter pedido a retirada de tramitação do Congresso de um projeto com conteúdo
semelhante, que tinha sido enviado na gestão FHC, sensibiliza o governo da
presidente Dilma.
O Ministério do Trabalho e Emprego,
sucateado e envolvido na apuração de denúncias de corrupção, não joga nenhum
papel relevante nesse tema, como de resto em nenhum outro do mundo do trabalho
atualmente.
O Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão tem pressionado pela aprovação do projeto, sob o fundamento
de que contrata muitos terceirizados e precisa de uma regulamentação para que
tenha segurança jurídica nessas contratações.
A Casa Civil não disse a que veio
nesse assunto e a Secretaria-Geral da Presidência da República aposta num acordo
para a votação da matéria. Ou seja, quem deveria defender os trabalhadores, no
caso o Ministério do Trabalho, não tem força no governo, e os setores que têm
peso tendem a apoiar o projeto, seja na versão atual, caso do Planejamento, seja
numa versão com regras mais claras, inclusive no que diz respeito à
representação sindical, caso da Secretaria-Geral da Presidência.
Entre os parlamentares, com exceção
da bancada sindical e de poucos partidos, entre os quais PT e PCdoB, que
fecharam questão contra, os demais ou estão divididos ou 100% a favor da
proposta empresarial.
A confusão é geral. O presidente da
Comissão de Constituição e Justiça, onde o projeto se encontra, parece confuso,
com o vai e vem de relatorias, e inseguro, ao pedir ao presidente da Câmara para
levar a matéria para votação direto no plenário.
Os partidos, inclusive o PT, que
fechou questão contra o projeto, e o PDT, que indicou o ministro do Trabalho e
Emprego, contraditoriamente assinaram apoio a um requerimento para votação da
matéria em regime de urgência no plenário.
Todos sabem que o fato de
subscrever um requerimento não significa que votará a favor do mesmo ou do
mérito da matéria objeto do requerimento, mas é no mínimo estranho. Veja abaixo
quem subscreveu o requerimento de urgência.
Os magistrados do trabalho e suas
associações, que conhecem bem como são tratados os trabalhadores terceirizados,
foram firmes no combate ao projeto, que precariza ainda mais os direitos desses
trabalhadores. Até o Tribunal Superior do Trabalho, que não costuma opinar sobre
matéria em debate no Legislativo, emitiu uma nota, assinada por 19 dos 27
ministros, condenando fortemente o projeto.
As entidades sindicais, notadamente
as centrais sindicais, são unânimes em denunciar o projeto, que amplia o escopo
da terceirização, inclusive para as atividades fins da empresa, sem reais
garantias para os trabalhadores. Nem a responsabilidade solidária da empresa
contratante da terceirizada na hipótese de não cumprimento de direitos é
aceita.
A presença e o trabalho de todas as
centrais foram determinantes para o retardamento da apreciação da matéria. As
grandes manifestações, nos corredores do Congresso, com forte presença da CUT,
contribuiu para o fechamento de questão do PT contra o PL 4.330. Mas a
mobilização não pode nem deve parar.
A pressão dos trabalhadores e suas
entidades pela não votação ou rejeição do projeto deve ser permanente, porque o
setor empresarial, que financia campanha, tem pressionado muito pela votação.
Toda vigilância e cuidado são poucas na tentativa de evitar esse retrocesso nas
relações de trabalho.
(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap
Fonte: Diap
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