24/10/2013 -
16h01
Thais
Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Aproximadamente 20% dos trabalhadores das regiões metropolitanas
brasileiras gastam mais de uma hora por dia no deslocamento de casa para o local
de trabalho. A constatação está no comunicado divulgado hoje (24) pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Feito com base nos dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), o estudo indica que a situação vem piorando, uma
vez que 20 anos antes os trabalhadores das regiões metropolitanas que
enfrentavam esse tipo de situação correspondiam a 14,6%. Considerando o conjunto
de trabalhadores brasileiros, 10% levam mais de uma hora nesse trajeto e 65,9%
gastam menos de meia hora.
Em razão do tamanho e da complexidade dos sistemas de mobilidade urbana, o
Rio de Janeiro (24,7%) e São Paulo (23,5%) apresentam os maiores percentuais de
trabalhadores que perdem mais tempo no percurso. Na região metropolitana do Rio,
gasta-se em média 47 minutos e na de São Paulo, 45,6 minutos. Segundo o técnico
de planejamento e pesquisa do Ipea Carlos Henrique Carvalho, essa é uma situação
que tem impacto negativo na produtividade dessa parcela da população. "Não se
pode esperar que a produtividade [desses trabalhadores] seja igual à de um que
leva menos de 30 minutos, por exemplo, para chegar ao trabalho. Isso traz fortes
impactos do ponto de vista social e também econômico, já que a produtividade é
comprometida em razão do desgaste que esse trabalhador tem ao levar muito tempo
e em condições muitas vezes desfavoráveis de transporte", disse.
O advogado carioca Rodrigo Oliveira, de 36 anos, leva em média uma hora e 30
minutos de carro, diariamente, para chegar ao trabalho, no centro do Rio de
Janeiro. Antes, ele precisava pegar ônibus e metrô para fazer o trajeto. Depois
de seis meses, contabilizou a leitura de 14 livros nas viagens de ida e de
volta. Por causa dessa maratona, ele acabou desistindo do transporte público.
Morador da Barra da Tijuca, zona oeste carioca, ele conta que o trajeto, feito
de carro, só não é pior porque a paisagem ajuda a aliviar o estresse. "Já morei
em São Paulo e era muito pior. Chegava em casa, na volta do trabalho, muito mais
desgastado. Aqui no Rio pelo menos tem o visual da orla que é muito bonito e
ajuda a não ficar estressado", disse.
De acordo com o levantamento do Ipea, na outra ponta do ranking
aparece Porto Alegre, que é a cidade onde os trabalhadores gastam, em média,
menos tempo no trajeto entre a casa e o trabalho: 30 minutos. Carvalho acredita
que isso pode estar relacionado ao fato de a capital gaúcha ter uma extensa rede
de corredores de transporte público, além de uma melhor distribuição das
atividades econômicas pelo espaço geográfico. Ele também citou o caso de Belém,
que, juntamente com Salvador, é local que registrou maior aumento do tempo gasto
no percurso entre 1992 e 2012. Em Belém, o tempo médio passou de 24,6 para 32,8
(elevação de 35,4%); e em Salvador, de 31,2 para 39,7 minutos (crescimento de
27,1%). No conjunto das regiões metropolitanas, os trabalhadores passaram a
gastar 40,8 minutos em 2012. Vinte anos antes, despendiam 36,4 minutos. De
acordo com o estudo, esse aumento de aproximadamente 12% no período foi três
vezes maior que o observado nas regiões não metropolitanas, onde o tempo gasto
passou de 22,7 minutos para 23,6 minutos (elevação de 4,2%). O documento também
traz dados relativos à área rural, onde, diante do trânsito menos intenso e das
menores distâncias percorridas, a maioria dos trabalhadores também gasta até 30
minutos (76,2%) para chegar ao local de trabalho.
Para inverter a tendência de piora da mobilidade urbana, e garantir um
sistema mais confiável, confortável e com menos perda de tempo, Carlos Henrique
Carvalho defende que os governos devem criar incentivos para distribuir melhor
pelo território as atividades econômicas e, consequentemente os empregos, além
de priorizar os investimentos em transporte público.
"Não é o que temos visto no país, onde houve congelamento do preço da
gasolina e, diante de crises, redução dos tributos para aquisição de veículos
novos. Não se pode criar barreiras para aquisição de veículo individual, mas
devemos seguir o padrão europeu, em que todos têm [esse bem], mas as políticas
incentivam o seu uso racional, seja por meio de cobrança de estacionamento ou de
pedágio urbano, além de investimentos na expansão das redes de transporte
público e dos corredores de ônibus exclusivos.
Ele também destacou que, pela primeira vez, o número de famílias brasileiras
com pelo menos um automóvel ou uma motocicleta ultrapassou a marca de 50%. Em
2012, a proporção chegou a 54%, 9 pontos percentuais a mais do que
em 2008, quando 45% dos lares tinham um veículo particular. A tendência, segundo
o comunicado, é que o número aumente ainda mais nos próximos anos.
Edição: Juliana Andrade
FONTE: Agência Brasil
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